quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Poesia de Fernando Pessoa - Espírito -



Sou Eu, Mãe...


I

Cerrados os olhos ainda assim também enxergam
Entre escolhos dos escombros agros idos, exíguos.
Que neste infindo turbilhonar do éter a ti segregam
Criando interno hino lúdico, dos conceitos ambíguos.

Reminiscentes luzes, plangentes virtudes, te ergam,
No escoimar de jaças que te sucumbem aos perigos
Realinhar de forças das naturais feições que vergam
A descompromissar leis de incréus, retardos jazigos.

E como ao feito, do morto revivente da Betânia
Soluçante emoção, dissolvida em mirífico desvelo,
Estancados, loucos sentimentos, de agra cizânia
Gritantes, que prossegue a vida, e é em teu zelo,
Que osculo a cada um dos teus, Ó Lusitânia.
II
Doutro, onde destilo os mares do veneno, pregam
Que as pagas não bem pagas te sejam esquecidas
Em pleno exílio, doze mil velhos pecados renegam
as homenagens vãs, que do além foram rendidas.

Alhures espreitam apensos, qu´em laivos s´esfregam
No incorruptível tribunal avesso de tuas várias vidas
Louvando os insultos que nas dores a ti te entregam
Anatematizando inconsciências frias, ressequidas.

Tal como nau tornante deslizo olhar ébrio à linha litorânea
Encharcada de alegria, exulta, brilha, salta, aira, festejante
A assemelhar-me tresloucada alma, em incurável insânia
Gritando que prossigo redivivo, ativo, em ardor retumbante!
Neste apertar ao peito a cada um dos teus, Ó Lusitânia!
III
Vertigens de rolar despenhadeiros, dos quem navegam,
Na certidão ignota de bardos aventureiros sós, tardios
Impossivelmente circunscritas paragens que refregam
Com sonhos irreais dos sepulcros, a contemplar, vazios.

Sou eu mesmo, o que volta rogativo, aos que me negam,
Nenhuma tolerância aos imperceptos triunfos, nós vadios
Mas, toda bondade aviltada em amor que os ódios cegam
A este amor tão grande que no eu de mim derrota os brios

Sou eu mesmo, Mãe amada, semente torna extemporânea
Por nada ter de si, a ode te exorna em puro áureo acalanto
Querendo de ti sentir Olísipo, a grita, a paixão insucedânea
E repetir de inspirada harpa, bel fremir de eivado encanto
Amo-te, amo-te muito, amo-te sempre, ó minha Lusitânia!

Mas, como deplorei, tal que eu vejo- Milagre- não possam vê-las,
Lágrimas, de ao despejar brilhantes, mais que sóis, nem retê-las.

Fernando Pessoa- espírito
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no
Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)



AMOR


Tomei, como de assalto, a mente a passar, alto, pela iluminada senda.
Roubei, com doces fluidos, os pensamentos e ruídos. Ceguei-os, sem venda.
É bem mais natural do que nos contam, e apontam. Nada místico. Só holístico.
Porque a sê-lo precisaria cotejar a religião do franco lionense, e então faria,
Habilitação em espiritualidade, com conceitos inamovíveis, de igrejas estanques.
Ou então me entronizar nos ritos esotéricos, misteriosos channelings ianques.
Ou (pior ainda!) me converter aos famélicos exércitos das ganãncias, histéricos.
Quem sabe me adestrasse na iniciática dos vedas, budistas, feiticeiros, alquimistas.
Mas disso não tive falta, de mim não se cogitou, ao menos, se crença eu tinha.
Talvez soubessem que não a tenho (nem ainda), a não ser a profissão da língua.
(Essa sim é minha religião, de humanas felicidades, meu Nirvana e meu Hades)
Se bem que, ando a desconfiar (desconfio), que, dentro, estou a promover desvio.

Hoje é mais incomum de vê-la, mas a mediunidade, por sê-la, veio antes de nós.
O sopro é superior à carne. No princípio, no meio e no fim, é o Verbo, é a Voz.
Eu mesmo, em pessoa (?), na última parada o fui, mediano “médium”, inconsciente.
Ou melhor, talvez fingida (?) inconsciência, porque eu sabia que o era, certamente.
Mas, sejamos justos comigo; Nem sempre eu o sabia. Só quase sempre, (de viés).
Psicografei de mim mesmo e admirava ler-me como a revelar-se um novo Moisés.
No fundo de meu baú garatujei mil reformas, em formas que nem Lutero sonhara.
Muito mais que Homero, fiz Ilíadas e Odisséias. De Camões, novo Lusíadas.
Até de Eça, Camilo, Antônio, Junqueiro, Vieira, recebi em inconsciente transe.
De Lacerda, alternei, ora ele, ora eu. Hoje recebo Saramago (... o cenho franze).
Vi, de Ulisses, os trabalhos em sua pole, e carreguei a flor, que fiz na via feliz.
De Tagore os meus versos vicejaram, copiados, copiosos, opiosos. Foi de mim,
“-Não podes ver o que és. O que vês é a tua sombra.” - Eu quem disse isso, sim.

Mediunidade, ponte, travessa, dupla pendência, canal de força, divina demência.
Well, I can almost see end of the tunnel. After all...

Só me enxerguei por normal quando heteronimicamente escrevia. Fingia.
Nunca aceitei “por quê?” isso não seja pasta obrigatória, de ensino elementar.
Sou a um só tempo “médium” e mentor, canal e avatar, e penso, apesar de...
Bernardo, Caeiro, deles era fonte, passagem interferente, canal, primamente.
Com o Álvaro difere, porque era ele quem o era, eu pensava, ele não. Então...
Talvez por isto não o tenha mais visto, nem a Crowley na imensa sala de estar.
Se bem que de muitos nem notícias tenho. Tantas que, sem graça, perguntas faça.
É como na coxia dos teatros: palavras doces se azedam e as máscaras se quedam.
Eu mesmo ficava a pensar que era bem pior do que o sou, estaquei na tangente.

Ninguém pode imaginar quanta decepção espera belos “santos” graúdos, sisudos... Ah...
Recheados em galardões e ungidos em cantochões, de auréolas postiças, clamam.
Ficam na fila, regurgitantes, a exigir, dedo em riste, um “pouco mais de respeito”. Triste.
Muitos até se nomeiam credores, mas trazem marcadas na testa, por falhas, a besta.
Quanto mais argumentam a se justificar, mais o lodo revolvem, e os pesos os envolvem.
Outros, surpresos, extáticos, aturdidos ficam. Nem crêem, quando ao pódio são trazidos.
São os melhores, são muitos, que por santa humildade pedem nova conferência. Mudos.
Remoem a duvidar que fizessem tanto bem. Não crêem, mas são os melhores. Em tudo.
Invariavelmente, rogam retorno à lida. Não à vida, mas ao trabalho, e na faina se doam.
E são, estes, a salvação, os anjos de guarda, a proteção na crosta. Inteiros se doam...
Claro, os invejo, porque sempre representam o desejo do que se quer ser. Entoam,
Que a religião deles é Amor, a única, verdadeira, que Deus Criador, se a tiver, deve ter.

Fernando Pessoa (by Richard Kings)– espírito –
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública
 no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)
Em abril de 2018 estive no Chiado, em Lisboa, onde colocaram uma estátua em
bronze do amigo, que em espírito nos visitara alguns anos antes.

CHIADO

Ainda me calavam fundo as emoções no peito
Setenta e dois dias depois de receber o preito:
Homenagens pelo meu inacreditável centenário.
Ali, naquela praça, feliz sorvi o amor, o respeito
De amigos de hoje e d`antes, meio sem jeito
Cantei, dancei, chorei, no meu aniversário.

Mas aí... sereias latejaram sentidos a-dor-mecidos.

Percebi meu coração arder, como infinita brasa
A consumir-se inteiro em dor ímpar, profunda
Não é dor comum, porque aquela a tudo arrasa
É sem limite ou termo. De fogo o mundo inunda.

Sinistra coluna espessa de malcheiroso fumo
Subia a afrontar o céu, mudando o tom e o rumo
A rodo destruindo de modo grosseiro, pavoroso.
Avermelhando os ares, labaredas desafiantes
Faziam aparecer num amado cenário de antes
Um gigantesco inferno, mais quente, tenebroso.

A média pombalina ardeu, em feérico fogo e pranto
No incêndio o coração a derreter saudoso encanto
Marca de dor dantesca, apreendida, em cada rosto
Descomunal miséria moral, caindo sobre escórias
Calcinando os fatos, abraços, imortais memórias
Lágrimas sem fim de um vinte e cinco de agosto

Vi anjos, chamuscados, segurar, de águas, ponteiras
Co’s heróis de Cacilhas, sem nome e lugar, maneiras
de abafar devorador monstro, vertedoiro de tudo em tição.
Horrendo demônio a estrangular a aura, a alma, o coração.
E agora, revivendo, amargado, petrificado espectro vejo
O chorar incontido, tão dorido, inda a transbordar do Tejo.

Fernando Pessoa via Bernardo Caeiro - espírito
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)



Pedido

Olhando pelo fixo monóculo de minhas imagens fátuas
Reivindico aos pombos mais respeito com as estátuas.
                                                                                            (Fernando Pessoa)- espírito


Poesia Brasiliensis

Versejar desta maneira, em modos de verbos novos
É em rua de cascalho, descer u’a carroça com ovos.
                                                                                             (Fernando Pessoa)- espírito

(Recebidos pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)

assista o vídeo psicofônico em http://www.youtube.com/watch?v=iwk1OONse4I

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Poesia de Manuel Bandeira - Espírito -




Alegre Saudade


Sou seca flor de abril, ralada, triste e morta
Fundida na calçada do entorpecimento.
Gusano, olor de tépido indene passamento
Pendido caule estanque no peá da Porta.
 

Sou sombra do que fora quimérica imagem
No explodir de sonhos, alma leiga e impura
Tateante rastelo que a murmurar procura
Perdidas existências de invulgar paragem
 

Sou menos, muito menos do que canta a lira,
Perturbador mutismo o anoitecer suspira
Extensa reticência interrompendo a prosa

Agradecido sou por vela, incenso e prece,
Abraço quem comigo no abraço reconhece
O velho peito ardendo a saudade de Rosa.


Manuel Bandeira - (espírito)



(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará)



DESCOBERTAS


Descobri, como Colombo, um novo mundo, conhecido.
A surpresa foi tão fosca que julguei nem ter partido.
Certeza tive, (na mosca!), que não era igual outrora
Por ver que o carteiro nem pôs na caixinha lá de fora
o maço impagável de contas, sempre muito volumoso.
Neste lado o sistema é bem menos tributoso.


Como não, de muito, estou “em dia” com todas.


Manuel Bandeira - (espírito)



(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará




FRANCISCÂNTICO



No estro da ufania recantarei meu canto
róseas esperanças e anelados sonhos
Vivendo na miragem desejos risonhos
Correndo nas pastagens de um salmo santo

 


Se não possuo forma sobrará, no entanto
Em novas alamedas, quedos versos bisonhos
Bordando em mil sorrisos soluços tristonhos,
No festejar do Bem, pelo estancar do pranto




Miríades de estrelas refulgem no horizonte
Espalhando a nobreza num mar de Anacreonte
Crispando a imensidão coberta com seu véu.




E choro de contente, saudante vejo, longe,
Na singela figura, luminescente monge
Que olha para baixo para ver o céu.




Manuel Bandeira - (espírito)




(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará



PROCURA-SE VIVO OU MORTO



Quero saber se alguém sabe
Se oculistas competentes
Costumam vir para cá, d´onde agora isso teço .
O Ovídio não apareceu e meus óculos, de ruins,
Só servem mesmo, de jeito, pra uma lata de lixo.
Preciso com boa urgência, que sejam multifocais.
A consciência humana às vezes fica nos óculos,
Pois impõe a que saiba cada um,
Ao menos, onde está a ponta de seu nariz.
Quero saber se alguém sabe.



Manuel Bandeira - (espírito)



(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará



VAGAS



O mundo inteiro, até o Rio,
Podia fazer jejum,
Demorado, de violência.
Verdadeira abstinência,
Estendida, bem comprida,
De maldade e covardia.
Podia fazer jejum
De malquerência urbana.
Seria muita alegria.
O rio, e o mundo inteiro
Fariam com exagero
Festivais de amizade,
Que tal, solidariedade?!



Aí, (quem me dera! Pudesse...)
O anjinho que olha atento
a porta d´almas defuntas
Podia colar a placa
de que “Há vagas no céu.”
Pro Rio e pro mundo inteiro.



Manuel Bandeira - (espírito)



(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará





Canteiro de Amor


Desvio
O frio,
Vazio
No fio
De lembranças bem curadas.
Espio
Crio
E rio
recrio
embainho libélulas em fadas.
Porfio,
utopio,
afloro o estio,
Do amor, rocio
Espiciforme, das sementes espalhadas.


Manuel Bandeira (espírito)




(Recebido em reunião pública no dia 18 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará


Ouça músicas mediúnicas recebidas por Arael Magnus clicando no link
http://www.youtube.com/tvintermedium?gl=BR&hl=pt
leia mais mensagens deArael Magnus em http://intermedium.spaceblog.com.br/

terça-feira, 13 de outubro de 2009

À Qui Intéresser Puisse- (A Quem Interessar Possa))




Mais do que diletante intromissão, cumpro um dever, registrando desconfortável ponto de vista, após detectar distância e indiferença, e porque não dizer, grave abandono dos preceitos basilares da Doutrina, por parte de muitos irmãos de jornada, diante de notáveis questões que afligem, atingem e desestruturam no plano terrestre, a Humanidade, como um todo. Rogo antes, o perdão pelo entusiasmo que possa magoar, o entendimento pela indignação que insiste em clamar, e paciência pela ignorância que não se desprendeu deste obtuso aprendiz.

Além de espectador, (eu creio nisso!) o que recebe em seu coração as imperecíveis luzes da sabedoria consoladora da doutrina de Kardec, tem que ser participante, e arauto ativo de verdades às quais teve acesso, independente da reação, das resistências, do atrito que possa advir. (même si répétitifs)

Razões e conceitos precisam ser consolidados, para que integrem o trivial. Mais que isso, disseminados. Entendo que o espírita verdadeiro, que Kardec chama de homem de bem, tem a consciência acerca de seu papel norteador na sociedade em que vive, e menos que seu saber e conhecimento, menos que sua compreensão e abrangência, e muito além de ortodoxia engessante, estão o seu exemplo e a manifestação de seu pensar, de suas certezas, externados de público, ainda que sob o fogo da pressão, dos apupos e da incompreensão do mundo. Constata-se hoje que “muitos jogam para a torcida”, fugindo do embate, “comme un chat échaudé”.

Lamentavelmente, temos assistido às evasivas e fugas de companheiros de propalado quilate, dirigentes de honrosas instituições, que na abordagem de temas cruciais e polêmicos, se contorcem em “excuses lambeaux de raisons étrangères” declinando o salutar confronto, no debulhar das dúvidas, mesmo diante de ostensivas deturpações dos princípios que regulam a conduta cristã, humana e equilibrada.

E “justificando” essa deserção, apelam para a resignação, para a não violência, para abstenção do escândalo, ”un camion rempli de bêtises”, loneado por inaceitável comodismo, falta de compromisso, debilidade e medo. Conclamamos a estes uma retomada de postura, na recuperação da identidade espírita cristã. Porque omissão também é escândalo. Tibieza não é compatível aos ensinamentos colhidos. Si nous ne voulons pas qu'il existe des martyrs, nous rejetons la présence de lâches.

Num momento decisivo, de alteração de rumos, de transformações na vida dos povos, o seguidor espírita, na liberdade que lhe faculta a percepção esclarecida, e na obrigação que lhe impõe a quota de envolvimento com o mundo a seu redor, não pode recuar, nem proteger-se a si, sob qualquer pretexto, precisando externar, revelar a todos, da forma que lhe couber, sua opinião, seu modo de pensar, porque este é o tributo exigido a quem foi facultado subir o degrau do esclarecimento, trazido pelo Paráclito Consolador. “Coûte que coûte.” Ousem, e os anjos pensarão suas feridas.

Entre muitas questões das mais relevantes, podemos citar a epopéia de baluartes diante da eutanásia, do aborto, da pena de morte e do suicídio. E como nos orgulhamos pelo vislumbre de vultos extraordinários, que emergindo de humildade silenciosa, inculcaram sábias lições que perduram. Pelo esclarecimento promoveram a defesa da vida, na revelação das conseqüências pela transgressão da Lei Divina, aos que cometem, estimulam ou permitem as inaceitáveis barbáries. Assim era num passado próximo. E nem de longe podemos avaliar os benefícios que essas démarches trouxeram. Hoje, entretanto, há comprometedora indiferença, distância, cegueira. Aqui e ali se ouvem murmúrios e muxoxos onde se deveria bradar o clamor, ribombando os sons da revelação que preserva, defende e valora a vida.

KARDEC, em sua saga dos 15 anos, abriu o peito, encarou a ignara turba, sem melindres e receios, (Graças a Deus!), para nos herdar a compilação do Grande Código da Vitória, na acepção mais profunda e sublime, que é a do Bem sobre o mal, da sabedoria sobre a ignorância. Aclarou-nos as sendas, explicando e ensinando, convertendo as interrogações em exclamações de júbilo, pela descoberta dos motivos da existência. Ninguém, em nenhum lugar, trouxe aos ensinamentos do Mestre Nazareno tanto descortínio e clareza quanto o lionês abençoado. E cabe aos que se abrigam sob a Verdade Consoladora, apregoar ao mundo esse pavilhão insuperável.

É precioso que as colunas de espíritas que não acordaram para estes alertas, se abalem, se movimentem, se desprendam de seus bordões teóricos, superficiais e inócuos, e personifiquem, em pensamentos, palavras e atos, o grande tesouro de que tomaram posse, conhecimento e ciência. Mas se isso dá os privilégios da sabedoria, decreta a ação eficaz, intimorata e exemplar. Recolhemos aqui o versículo luminoso do apóstolo Thiago em sua carta, 4:17, de que “ aquele que conhece o bem e não o pratica, incorre em grave falta, comete pecado”, complementado por “a quem muito for dado....”

Estamos, no planeta, na iminência de graves e profundas metamorfoses sociais, que já interferem nas estruturas da moral, da família e dos costumes, e na própria viabilidade da existência terrena. “Les temps sont arrivés.”

Mas, o que se assiste é o avanço de institutos que atrasam a evolução da espécie humana, retroagindo a comportamentos atávicos, de nosso instinto mais imperfeito. Recentemente se discutiu a autorização legal do aborto no Brasil, dissimulada sob a lei da anencefalia. O que presenciamos foi um fanfarrear de argumentos falsos para colorir matança hedionda, nos moldes mais repugnantes. Poucas (sábias e corajosas, mas reduzidas) vozes em defesa do direito de viver, se levantaram no meio espírita. Não se trata de ser contra ou a favor, em essência, mas de mostrar o “porquê” se posicionar contra a interrupção voluntária da vida, sob quaisquer álibis. E a Doutrina Espírita, pela planilha lógica e racional tem, sem dogmas, sem preconceitos, sem freios de consciência, condições de expor de modo irrefutável, os motivos, os efeitos, os precedentes para essa postura inflexível e determinada. Mas, além de crer e saber, é preciso “botar a cara”, na ação, na peleja, espalhando a semente.

Muitos confrades, desestimulados até por notáveis das casas e congregações diretivas, preferem as sombras de biombos da letargia e da inércia. À maneira de credos egocentristas, escolhem para ninhos os chamamentos ideológicos, filosóficos, com a salvação de si mesmos, (como se isso fosse possível). A estes concitamos a reação pela régua do Evangelho, no “Segue,me!” exortado por Aquele que trilhou o espinhoso caminho do Gólgota.

Assim como se explicam, pela Doutrina, as causas e as conseqüências das atitudes humanas, é preciso penetrar, se imiscuir, se entranhar em questões cotidianas, de relevância para o espírito. Não é necessário que se faça o proselitismo ou se mobilizem forças para aumentar quadros. O reflexo e o exemplo serão sempre melhores para as adesões espontâneas.

Ninguém se torna espírita por mera “échange de wagons”. Como a um lente de mestrado cabe esclarecer os que ainda estão em níveis inferiores, sobre a importância em estudar, dedicadamente, para aprender, evoluir, e ao mesmo tempo, dirimir dúvidas, apontando melhores caminhos, compete ao profitente kardequiano o deslindar lógico dos intrincados problemas derivados da ignorância, das forças retrógradas, do atraso. Não é querer guindar o outro a níveis para os quais ainda não está pronto, mas estimulá-lo a chegar ao alto. E, creiam, a Lide Cristã, na plataforma proposta, é o doutorado espiritual dos indivíduos. O título e o anel, de per si, porém, nada valem. “Le réglage provient de la pratique”.

Uma Voz da Verdade que se levantar a mais faz enorme diferença. Proclamar que liberdade é conquista que agrega direitos e abriga deveres faz bem à educação de todos. Enfatizar que nossas opções, dentro da faixa de livre arbítrio, correspondem à intransferível colheita de amanhã, é medida de peso. Abordar com judiciosa análise, temas como o aborto, pena de morte, eutanásia, suicídio, fanatismo, drogas, desvios sexuais, perversões morais, ganância, materialismo, tirania, e outras áreas de contundência, onde o balizamento espírita preponderará, - pela lógica, pela racionalidade, pela compreensão da Justiça e da Misericórdia de Deus-, a favor da evolução (et seulement ça!), é o que se postula.

Esta empreitada não se restringe a um “jeu de mots inutile”, mas à vanguardeira tábua de tarefas, colocadas ao mundo, ainda que sob a censura, o escárnio, a descrença, de quem ainda não a alcança. O orbe terreno se aproxima de decisivas transformações. Não tardam as trombetas e clarins ecoarem, nos céus das consciências, o alvorecer da vindima. “Travailleurs à la dernière minute” arregaçai as mangas!. Corre, porém, a recuperar o tempo, porque consta a informação de que, no movimento espiritista da última década, só duas coisas cresceram com destaque : as livrarias e as almofadas das poltronas dos centros. Não deixemos que isso prossiga.

Levantem a bandeira do Mestre Jesus, através da Fé Raciocinada, da Pluralidade das existências, da Comunicação entre os espíritos em quaisquer dimensões e por diversos instrumentos, da Caridade praticada, concreta, substanciosa e efetiva. Mas falem e abordem também, os temas pulsantes, polêmicos, pontificando o testamento deixado por Cristo, desembaciado pelos emissários divinos, revelados ao Codificador. Tudo para que a capa brilhante do trigo não seja enganoso revestimento de envenenado joio.

«... son essence même est la clarté, et c'est ce qui fait sa
puissance, parce qu'elle va droit à l'intelligence.
Elle n'a rien de mystérieux, et ses initiés ne sont en possession d'aucun
secret caché au vulgaire.”- AK

"... Sua essência é a clareza, e é isso que faz com que seja
poder, porque ela vai direto para a inteligência.
Não é misteriosa, e os participantes não estão em posse de qualquer
segredo escondido, para alguns. "- AK

J. Freitas Nobre – espírito -
Mensagem recebida em reunião pública, pelo médium Arael Magnus, no Celest – Centro Espírita Luz na Estrada – Sabará- MG em 11 de Outubro de 2009.

sábado, 10 de outubro de 2009

O Milagre e o Veneno


Mesmo com o sol alto, o vento frio incomodava o pequeno Jochanam. Protegido por um arbusto, brincava com pedrinhas na areia, levantando-se, de vez em quando para olhar ao longe. Esperava algum sinal da caravana de Jesus e os discípulos.

Estava ali, na estrada do pequeno vilarejo, na Betânia, a pedido de Marta, amiga de Ashira, sua mãe. Ao fundo, no caminho que liga a parte leste de Jericoh, percebeu grande movimentação. Eram muitos. Seguramente só poderia ser o Mestre Galileu e seus seguidores, visto não ser comum tal movimento em plena quinta feira. Ele voltou correndo, e na colina foi ter com Marta, que, avisada por outros, já subia:

- Eles estão chegando, eles estão chegando... - dizia, afobado, Jochanan - até ser amparado por Ashira que também cuidava da irmã de Lázaro, morto desde domingo.

Ao lado, a apoiar-se numa bengala de fina lavra, incrustrada com madrepérolas, Caleb seguia a caravana, enquanto ia conjeturando com Ephraim:
- Pobre mulher - dizia ele em tom diverso - deveria já estar cuidando de suas coisas... O irmão deixou muitas terras, vinhedos e olivais... Ficou sozinha com a outra, Maria. – e com ar interesseiro acrescenta - Vão precisar de alguém como eu para cuidar dos negócios....

O companheiro, notando o olhar cúpido, a ambição voraz do comerciante judeu, adverte:
- Vá devagar Caleb... Lázaro detinha o respeito do Sinédrio... E eles devem proteger as irmãs...

- Claro... Eu sei... Mas não hesitarei em me oferecer para participar... Temo que elas, com a pouca experiência possam deitar fora a herança... - e arrematando com um olhar no futuro - Isso também vai modificar o meu conceito junto a Caifás... e aos sacerdotes...

Já no alto do caminho, Marta e a pequena comitiva enxergam Jesus e os seus que se aproximavam.
- Mestre... Se estivésseis aqui Lázaro não teria morrido... - disse Marta, de joelhos.
Levantando-a e confortando-a nos braços, Jesus falou:
- Marta... Acalme-se... Tenha fé simplesmente... Seu irmão ressuscitará!
- Sim, Senhor, eu sei... Ressuscitará nos últimos dias...

Olhando em derredor Jesus pergunta por Maria, a outra irmã. Informam-no que ela ficara em casa, junto a outros, pois conforme a tradição, aquele era o quarto dia e a pedra do túmulo fora totalmente rolada. Com os olhos fixos na irmã do amigo, Jesus falou, em meio a grande silêncio que se fizera:
- Marta... Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crer em mim ainda que pereça, jamais morrerá!

.......................................
Jesus se dirigiu com os apóstolos ao jardim onde se encontrava a sepultura, uma caverna no sopé da colina. Por sua vez, Marta, pressentindo que algo de extraordinário iria acontecer, foi buscar a irmã.
Caleb e Ephraim acompanhavam tudo, de perto.

- Você viu?!- diz Caleb, cutucando o outro com a bengala - E dizia-se amigo do infeliz morto!... Amigo!...- tartamudeia - enquanto o coitado morria doente, ele estava longe. Dizem que curando os estrangeiros, fazendo as mágicas, bem longe... - e dando de ombros, completa - Esse povo é muito fácil de ser enganado... Ingênuos, deixando-se levar por esse místico, um embusteiro... Também – conclui – o que esperar de quem vem da Galiléia...
Sem objetar, mas sem concordar, Ephraim fez meneio de resignação, e foram para onde Jesus estava com os discípulos e as duas irmãs.

De onde estavam, ouviram quando foi dada a ordem aos ajudantes para retirarem a pesada pedra que vedava o túmulo. Também entenderam - porque grande era o silêncio àquela hora - quando o Rabi, com as mãos aos céus, orou:

- Pai, eu vos dou graças, por atenderes ao meu pedido. Vós que estais em mim e comigo fazeis isto para a para Vossa Glória, para o fortalecimento da Fé...

Com autoridade sublime, olhando para dentro da sepultura, ordena:
- Lázaro... Levanta-te... Vem pra fora!

O Milagre, o maior de todos, se deu. O silêncio foi quebrado por gritos e choros de júbilo e aclamação. Em pouco tempo, Lázaro estava livre das ataduras que o prendiam. Alguns, apavorados fugiam de um lado a outro. Aterrados agradeciam a Deus. Abraçados, Lázaro, Jesus, Maria e Marta, em santa euforia, deitavam lágrimas de gratidão, marcadas em suas faces e panos. Aturdidos, os apóstolos davam Graças aos Céus.

Um pouco afastado, com expressão de assombro, Ephraim, com olhos fixos no amigo, comenta emocionado:
- Acabamos de ver um milagre impressionante, Caleb! Isso só pode ser coisa de Deus... Lázaro ressuscitou!

O negociante sagaz, vendo malogradas suas ponderações preconceituosas, sem disfarçar sua decepção, cofiava a barba rala, deixando à mostra os dentes amarelados. Pensativo, em sorriso irônico, completa

- É... Tudo bem... Ressuscitou sim... Mas observe bem o detalhe: a túnica que cobria Lázaro está toda enlameada... Toda suja... E cheira mal... – e com a mão no nariz, saiu, vociferando - Como fede!

Diz a tradição que Caleb esperou em vão outro Messias até sua morte. Suas gerações posteriores permaneceram nessas convicções e o veneno de suas insinuações se espalhou por todos os cantos da Terra, estando entre nós, nos lábios de muitos, até hoje.

Pe. Aldo – espírito-

(Mensagem recebida por Arael Magnus no Celest - Centro Espírita Luz na Estrada – Sabará - MG, em 3 de Maio de 2009) fundoamor@gmail.com

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Sebo do Egoísmo


O SEBO DO EGOÍSMO

“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama.
Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, vejam a luz.”

Lc, 8:16


O egoísmo está na origem, no miolo, de quase todos os males do mundo, e nem sempre é detectado, percebido, pela sutileza com que se apresenta, residindo aí um de seus grandes e tenebrosos perigos.

E esse monstro feroz que habita nosso interior, se manifesta e se insinua de maneiras mais diversas, mais complexas, sendo refolhado para ser confundido, com virtudes como o zelo, a proteção, o amor. É o egoísmo um destruidor voraz de valores e princípios, e que merece de cada um, acurada atenção, por seu permanente efeito em nossas instâncias mais íntimas.

E no espírita, consciente de sua enorme responsabilidade em poder carregar esse distintivo, avulta-se a vigilância ainda mais profunda, para que, perdidas as chances não sobrevenham à consciência, as sombras do remorso, do arrependimento.
Narro-lhes o fato que se passou comigo, ainda recentemente.

Após concluir empreitada de visita a hospital em Belo Horizonte, onde, junto a dois luminares de elevada compleição moral, realizou-se o apoio ao retorno ao mundo etéreo de determinado amigo, decidi, para matar a saudade, andar pelas ruas e avenidas de particular afeição, na capital mineira. Dispunha ainda de algum tempo, enquanto meus dois acompanhantes cumpriam outros afazeres, onde minha presença não era necessária. Desci, com a alegria do reencontro, a avenida do hospital, em direção ao centro, parando um pouco no grande cenário verde, do parque onde andei tantas vezes, com alegria. Observei pessoas e lojas, marcas do progresso, e estendi olhar carinhoso ao prédio da antiga redação, ainda ali, renovando-lhe no sentimento as luzes da gratidão e da alegria, por serem capítulo especial na romagem carnal recém completada.

Na esquina da Escola de Direito, ainda absorvendo os ares de uma saudade singela e agradável, meus sentidos se voltaram para um carrinho, rangente de pesado, puxado por um rapaz forte, moreno, suado, a subir em direção ao sindicato. O rude veículo estava atulhado de livros. Algumas abas de papelão em tiras mal postas, faziam a carroça balançar, contrariando as leis do equilíbrio, permitindo aos transeuntes uma interior torcida para que não caíssem.

O sinal fechou, e a contragosto, o rapaz, fincando os suportes traseiros do carrinho no asfalto, resfolegante, parou. Com o impacto, parte da carga se espalhou pelo chão. Solidários, alguns passantes se apressaram em ajudar o moço. Foi aí que distingui no chão, um dos livros e consegui identificá-lo. Tratava-se de “O Verbo e a Carne”, escrito brilhante de Júlio Abreu e Herculano Pires. Aproximei-me mais e constatei que toda aquela pilha era de livros espíritas. Antigos, porém bem conservados, alguns com capas de papel de presente, dando a perceber o carinho de seu ex-dono. Caminhei na leitura de títulos imponentes, obras doutrinárias, opúsculos valorosos, esparramados ali no asfalto e amontoados no improvisado transporte. Meus olhos perspassaram por autênticas jóias da literatura espírita, com obras conhecidas, algumas raras, provavelmente a maioria já fora de catálogo, não mais encontradiços, suplantados hoje pelo modismo dos romances ocos e das obras de perquirições fracionárias, seccionistas. Ali, jogados ao léu, senti-os humilhados, a caminho de algum sebo, dos lixões, na reciclagem da celulose. Tesouro perdido, agora sem valor pelo não uso.

E, não podem imaginar quanto, isso ocorre de modo contumaz, repetido. Um amigo já me dissera: “as traças brasileiras são as mais espiritualizadas do planeta!”.

É uma mania comum entre os espíritas esse apego, essa veneração aos livros, sendo muito constantes autênticas disputas domésticas pelo espaço reservado a eles, mesmo com o mofo e bolor, além dos cupins e as reclamações pertinazes e imperativas.

Posso, de cadeira, afiançar que esta é uma perversa forma de escravidão a um dos pelourinhos do egoísmo, cujos agentes, ágeis, se apresentam como inclementes credores logo após nosso desligamento. O destino dos livros que lemos e temos deve ser as mãos e consciências de outros. E nesse universo devem estar, exatamente, aqueles que mais nos são agradáveis, úteis e caros. Tenho falado com amigos espíritas, agora e antes, de um propósito antigo, de se fazer uma grande feira, para que se esvaziem as prateleiras, os armários, e assim, muitos se livrem desses futuros dolorosos pesos, que se tornarão dívidas amargas, através de doações, trocas, intercâmbios. Não apologizo mais a formação das úteis, mas solitárias bibliotecas de empréstimos, visto que têm trazido, às casas, mais preocupação que benefícios. Exorto e conclamo sim, à cessão, à distribuição, a entrega fraterna, como a transferência de um bem precioso, como o são, para que possamos dessedentar nossos irmãos ávidos do saber elevado, colocando-os em contato com aquilo que nos ajudou a ser melhores, procedendo às corrigendas, evoluir.

De certa feita em meu querido “Célia” fui presenteado por um querido irmão, de um exemplar de uma das mais recentes, à época, obras de Emmanuel, colhida por nosso amado Chico Xavier, - Palavras de Vida Eterna-. A dedicatória era efusiva e carinhosa.

Após a reunião, abordado por um assistente vindo de área suburbana, foi-me solicitada uma ajuda a um núcleo espírita, que engatinhava em sua formação. Juntei mensagens, velhas publicações do Reformador, quatro das principais obras da Codificação de Kardec, e num impulso, retirando a amável mensagem do ofertante, coloquei o livro, presenteado pouco antes. A alegria do que recebia foi pronta, vivaz. Seu entusiasmo e gratidão só não foram superiores à grande surpresa que tive ao voltar de minha jornada terrena, quando, apresentados a mim os resultados de minha longeva permanência, pude constatar, na limitada faixa do saldo positivo, uma seqüência volumosa de créditos e comendas espirituais, vindos de pessoas desconhecidas, com quem, de memória, jamais contatei. Fui informado de que eram, na maioria, seres que tiveram a vida transformada, substancialmente mudada, numa casa espírita de uma comunidade de tugúrios, nascida sob a semente de livros que eu doei, dentre os quais aquele “livro novo”.

O bom livro é uma lâmpada, e tê-lo, um compromisso. Retê-lo, uma falha. Compromissos têm duas conseqüências: dívidas ou créditos. Tenho assistido pesaroso, a muitos irmãos queridos, mesmo pródigos em conquistas, experimentando sofrimentos atrozes, por não terem compartilhado a contento, seus conhecimentos e aprendizado. Muitos ainda percorrem os úmidos e escuros corredores e estantes, em busca de livros, lições não apreendidas. Não os encontram nas mãos dos que lendo-os, doutrinam (-se), mas nos monturos dos inservíveis, no lixo. São os que não entenderam que o melhor destino do livro é o de se dissolver de tanto ser compulsado, como o da vela, que se consome, iluminando.


José Martins Peralva – espírito-

(Mensagem recebida, em sessão pública no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras- Sabará, pelo médium Arael Magnus, em 27 de Setembro de 2009)Ouça músicas mediúnicas clicando no link
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A Maior Fonte de Energias que Existe


Seres os há de todo tamanho, valor, evolução. São incontáveis as categorias. Predominam no plano terrestre, por razões compreensíveis, os mesclados, com seus vari-tons, composições de luz e sombra. São os que conseguem avanços em sua escalada, “ajuntando tesouros no Céu”, ou seja, se livrando de imperfeições e pesos, mesmo que retenham pontos obscuros de atitudes e de pensar. E esse panorama, hoje - em se tratando da raça humana, no sistema espiritual que a compreende - pode ser definido, geometricamente, por uma figura de losango deitado, cada vez mais achatado, com uma quantidade muito maior de indivíduos na região mediana.

Nos dois extremos há muito poucos, agora. Por um lado isso é bom, porque a cada dia reduz-se o número de criaturas totalmente más. Por outro, preocupante, porque também a cada dia diminui a tutela dos luminares sobre este orbe, aumentando aos que ainda estão em faixas transitórias, a responsabilidade em sustentar o sistema, religiosa e espiritualmente falando.

Todos - independente da situação em que se encontram - possuem instrumentos de identificação que lhes permitem ser reconhecidos ao primeiro contato, em grau e nível pelos que estão à sua volta, e dos que os visitam. É um sistema perfeito, que comporta o uso de cores e matizes, e algumas vezes sons (sobretudo seres de santificado brilho), e em casos de vibração muito baixa, também de cheiros, odores.

Cada um de nós carrega seu “Phaross”, - como abreviamos aqui na região de pesquisas onde fico - que traduzido seria “Photochromic Aromatic Oscillator Sound Stage” ou, Oscilador Fotocrômico Aromático e Sonoro de Estágio. É como se fosse, no linguajar atual, um chip, um crachá a qualificar a posição espiritual. Todos o possuem e o transportam, de modo permanente, por onde vão. Isso é que permite aos espíritos se reconhecerem, mutuamente. O expediente também serve de assinaturas, para atitudes, pensamentos, intervenções, empenhos, ficando impressos em nosso percurso. Esclareça-se que isso vale tanto para os iluminados quanto aos de pouco brilho, na carne ou não, todos, enfim.

Numa proporção compreensível à maioria, podemos afirmar que os avanços extraordinários da tecnologia, sobretudo da informática hodierna, no mundo terreno, consistem em insignificantes parcelas de liberação do conhecimento que é praticado em esferas espirituais, próximas ao planeta.

Em qualquer lugar, em qualquer nível, a conexão com nosso Phaross consegue abrir todo prontuário, a nossa ficha pessoal, com minúcias e detalhes. É claro que o acesso a informações mais íntimas, profundas, pormenorizadas só é facultado a quem detém a evolução suficiente para tanto. Em regiões mais elevadas perguntas simplesmente não existem pela não necessidade de uso.

É de bom proveito que nos certifiquemos disso, a todo instante, porque nosso “chip vibracional” revela com precisão o que somos, o que pensamos, o que fizemos e o que pretendemos, sem desvios, sem camuflagens.

Rapidamente se descobre que os expedientes usados são semelhantes às aplicações da cibernética, da informática, do eletromagnetismo, da química, das energias consubstanciadas, porém, com métodos ainda não totalmente dominados. Já é ponto passivo que nosso conhecimento é reminiscente, e que as propaladas evoluções tecnológicas do plano terrestre são cópias “lembradas” por seres, que no limiar etéreo estiveram por mais vezes ou permaneceram mais tempo. Muitos dos inventos e grandes descobertas, a maioria, aliás, são revelados antes, através de páginas de escritores, poetas, intuitivos, como as conhecidas “antevisões” de Julio Verne, Dante, Da Vinci, Kepler, e muitos outros, e com ênfase pelas narrativas de profetas, de médiuns e videntes, como as dezenas contidas na coletânea espiritista. Ali, além do “aeróbus” também encontramos as telas de plasma, LCD, o telefone celular, as comunicações via satélite, o raio laser, e diversas outras, hoje comuns, mas muito “fantasiosos” para a época em que foram trazidos pelos que os noticiaram. Pelo fator “IP”- Intuition’s Power - artistas, criadores, cineastas, sensitivos enfim, acessam com maior facilidade os bancos de memória destes arquivos chamados de “futuristas”. Aos poucos, com o esforço coletivo, a Humanidade vai apreendendo e tendo o controle do uso destas técnicas para a utilização dos propulsores evolutivos.

Ninguém consegue imaginar o desapontamento pelos quais eu passo, quando constato a utilização milenar de instrumentos e energias que eu imaginei ter ”inventado”. Patentear minha ignorância chega a ser cômico!

O Phaross também permite, por exemplo, a definição de campos de energias para conter investidas de falanges revoltosas, ou a detecção imediata das chamadas crianças “índigo” e “cristais”, dentre outras inúmeras aplicações.

É benéfico que nos certifiquemos disso, a todo instante, porque nosso “chip vibracional” alardeia com precisão o que somos, o que pensamos, o que fizemos e o que pretendemos. Essa atmosfera cerca não apenas o nosso “perianto”, mas tudo aquilo que possua nossa interferência: atos, palavras, pensamentos, obras. Nessa nova concepção, gravamos a presença individual como o fazemos com as digitais e o odor peculiar a cada um de nós.

Tais constatações alteraram muitos os parâmetros que norteavam meu conceito sobre as energias, principalmente as cosmo-quimio-eletro-magnéticas, porque passei a perceber a diferença das emissões, com som, cores e nuances variadas, a indicar qualidades e destinações específicas, independentes de seus espectros concretos. Detive-me a partir daí, na análise e observação destas mutações.

Já pude constatar algumas coisas que, creio, sejam de interesse dos que buscam o aprimoramento. A projeção energético-azulada provinda da bondade, da solidariedade, do ato de auxílio - além de extremamente potente - também tem uma função asséptica, profilática, desintoxicante, se é que me faço compreensível. Um ato de bondade, praticado por qualquer pessoa, independente do aspecto místico ou religioso que o cerca, produz esse efeito. De modo incisivo fortalece e promove uma boa limpeza na “placa luminescente”. Do mesmo jeito, as reações bruscas, nervosas, violentas, ou vindas de sentimentos inferiores, esgotam o brilho, a luz, enfraquecendo de forma radical a fonte geratriz de fótons, levando à penumbra, à escuridão, à opacidade patológica, mesmo sendo cometida num ato repentino, por um ser de comportamento santificado. Observe-se aí que o efeito é independente de sua fonte emissora.

Há algum tempo, quando indagava a um superior acerca das forças e grandezas das energias, a este eu enfatizava a opinião de ser o pensamento a mais veloz das conhecidas por nós. Meu orientador, com equilíbrio e firmeza, mostrou-me ao longe as emissões multicoloridas do que aqui chamamos de “barreiras dos Páramos Celestiais”. É uma visão magnífica, de sonho. Incomparáveis fachos de luz incessante, diamantina, se movimentam harmoniosamente, no infinito horizonte. Atravessam vigorosamente todo o espaço do Éter, varando incalculáveis limites, com predominância para o lilás, violeta, azuis suaves, róseas magentas. É, no meu raso entendimento, o caminho para a conquista da tese agostiniana da “sólida região da felicidade”.

Disse-me ele: - Lá está o que há de mais superior, mais forte, mais poderoso fluxo de energia já permitido aos seres nestas esferas, pelo Criador!
E aguçando minha curiosidade aos extremos, convidou-me, sem alternativas de recusa:
- Venha! Você agora vai conhecer o foco de onde esse formidando poder provém!

Após ajustar-me a confortável assento, com imantação manual, pelas forças da hipnose, fez-me volitar no tempo e espaço. Depois de percorrer regiões de gases lácteos sedosos, - que vim a saber ser o que se chama “Pavilhão do Passado” -, enxerguei-me deitado em catre simples, num singelo, mas acolhedor quarto de hospital. Parentes, médicos, amigos e enfermeiros expressavam sincera tristeza por minha iminente despedida da carne. Na cabeceira da cama, surpreso e feliz diviso o olhar brilhante, carinhoso, inesquecível de minha doce mãe, com um rosário nas abençoadas mãos. Angelical visão! Que emoção! Que alegria!

Revolvi àquela plúmbea e distante tarde de sábado de Junho, oito décadas atrás, e pude assistir o que jamais me será tirado da lembrança: um incessante fluir de energias lilases, semelhante a um gigantesco holofote, a subir diretamente aos céus, saindo do “occiput”* de minha amorável genitora. Percebi ali que o Pai - em sua infinita bondade e incomensurável misericórdia - permite a cada ser, de modo direto, o poder de se comunicar prontamente com Ele, pelo mais importante meio de produção de energias e forças que se pode conceber, que é a oração com Fé.

Gratíssimo, prostrado, rendo “Graças a Deus” por isso!

R. Landell de Moura – Espírito –

Mensagem recebida pelo Médium Arael Magnus no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada- Sabará-MG – em 30 de Agosto de 2009 –

Occiput - Região de espaço interósseo , no alto da cabeça, que nos bebês costuma-se chamar de moleira (LLP)

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OS MUNDOS DO PALHAÇO



        Respeitável público... Hoje tem espetáculo?...Tem sim senhor!

        O som possante da bandinha da ventura anuncia em acordes de bondade que a alegria chegou. Verdade.

        Abre-se a porta de lona, do belo mundo infantil. Pureza.

        Quais aves inquietas em revoada de luzes, crianças ocupam a bancada multicolor do circo simples da vida. Nobreza. 

         Ansiosa algazarra estampa um fundo pleno, sereno. Inocência.

         Pulando, peraltas, os malabares da dificuldade, sobem até o topo, nos oníricos monociclos, como gente curiosa. Esperança.

         A mão sagrada, na cartola invisível, desfralda a cortina da realidade. Vitória.

         Surge o palhaço, com sua roupa de estrelas, nariz vermelho de bola, coração iluminado. Candura.

         Distraído pela dança da borboleta de papel, tropeça na geringonça... e a platéia explode em graça. Presença.

         Platéia?- espirra com bom humor, em piruetas seguidas - Alguém disse platéia? E rola no chão de pérolas do confete solidário. Vontade.

         Ali, um menino branco, esparramando amizade, em confortável lufada de irrefreável risada. Respeito.

        Do lado, a boneca loira, comendo a verde pipoca do futuro, força a passagem no furo dos dentes, ausentes, com expressão de delícia. Sentimento.

         Em cima, grudado ao balão do entendimento, o garoto negro, atento, ilumina o seu redor com voz dourada, devorando o suspiro sobrante na boca branca. Harmonia.

         A indiana, da roupa bordada em seda, equilibra no abraço o pirulito gigante, com doce som de carinho. Cuidado de acrobata pra não sujar a roupinha. Capricho.

         O moleque de olhos puxados estende mãos generosas para a princesa africana, com a perna arranhada na escada da tolerância. E ela nem soluça mais. Companhia.

          A calda da maçã do amor com cheiro bom de baunilha devolve o brilho, o fulgor do iluminado sorriso de compreensão estendida. Cordial.

          A lantejoula alcaçuz, na beira de forte teia, cintila o riso feliz do indiozinho marrom, com seus olhos de açaí. Oferta compartilhada na louvação irmanada. Fraterno.

          Prossegue a apresentação no picadeiro do Bem, esparramando a poção da fantasia, imaginação e liberdade... Alegria...

          O sapato folgado da proteção faz ploft... ploft... Ao som da marchinha que fala de pássaros, de flores e cores. “Desata o nó, amarra o ioiô, no beijo da vó, no abraço do vô”. Dignidade.

        De repente, tudo cessa. Silêncio.

        O repicar do tarol da paz estrila, insistente: vai começar a grande roda de gente. Família!

        Todos são saltimbancos no atraente vitral de mosaicos violetas. De mãos dadas, perfumadas, se abrem num lindo sol. Radiante.

        No meio, o palhaço, atrapalhado na bola gigante, enrola o novelo, na calça de mola, que não fica no lugar. Dedicação.

        Dá saltos de entusiasmo, com o apoio da fivela, branca, verde e amarela. Perseverança.

      Sublime momento. Apoio.

       Um lenço que não se finda, saído de um dedal, enxuga suor de mil perfumes, mistura do diamante, vibrante lágrima da caridade. Felicidade,

       Desce do céu, no trapézio da virtude, um hino de união, a exaltar que todos são um, iguais, perante o Criador, Pai de tantas diferenças. Excelência.

        Escondido no algodão-doce da coragem, emocionado, o arlequim chora. Seguro nas argolas do ensino, que vem do além, confia. Humildade.

         No redemoinho da gratidão vê meninos como seus, e sente-se luz. Vida.

          Assim um circo é o céu.
          Assim um palhaço é Deus.
...........................................................
Encerra-se a função. Saem todos, e crescem.

Crescem?

Vem a noite que gera sombra. Retalha, divide, fatia, separa.

Aqueles não são mais gente. Encerram-se em jaulas.

São daqui, ou hindus, europeus, africanos, judeus, cristãos e ateus, feras, e fúrias, calúnias, injúrias, em constante desavença.

Monstrengos dominantes de cruel sociedade, ilimitada maldade.

Chicotes, ferrolhos, látegos da indiferença. Descrença.

Luxúria, ganância, fanatismo, domínio, poder, racismo, credos, medos, crises, bombas, forja de infelizes, falsidade, traições, brutalidade, desrespeito, preconceito...

É a miséria desfiando as infindas levas, nas trevas, a rolar em ribanceiras de ódio, dor e mentira. O Bem expira. O mal impera.

E o ser insano apodrece inumano, sem clemência,

perdido na vala espúria do terror, indecência!.

Vale de dores, estertores e ranger de dentes, dementes.

Amarga expressão embola o grunhido som materno, desespero.

Na oração se imola, no praguejar se consola, destempero.

Olhando o filho morto, mártir inútil de vulgar violência, bagaço.

Assim o circo é um inferno.
Assim, Deus é um palhaço.

GEORGE SAVALLA- espírito
............................................................

(Mensagem recebida em reunião pública em 4 de Outubro de 2009, pelo médium Arael Magnus, no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada- Castanheiras –Sabará-MG)

Obs. George Savalla Gomes é o nome do palhaço Carequinha, nascido em 1917 e desencarnado em 2006.

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O MENINO SEM CORAÇÃO


     
         A dor, conquanto sua missão regeneradora, permitindo a cada um o seu próprio burilamento e evolução, ainda nos assusta.   

        Enganam-se aqueles que pensam que nós, desencarnados, estamos isentos da indignação e do horror, quando presenciamos ou participamos de lastimáveis situações.

         Variando de ser para ser, o sofrimento do próximo, a maldade, o atraso, nos afetam tanto ou mais do que quando estávamos na carne.

        Aqui, no meu singelo posto de resgate e restauração, exercendo funções auxiliares de apoio e encaminhamento, me deparo muitas vezes com quadros que muito me emocionam e sensibilizam. Nossa compreensão, limitada e empobrecida devido à pequena estatura espiritual, se vê em muitas ocasiões, estremecida por quadros que só conceberíamos em nossa imaginação, quando invadidos pelo pavor.

        Naquela tarde, como era habitual, as caravanas dos que chegavam da crosta traziam centenas de seres, desencarnados em diversas partes do planeta. Foi quando ouvi a voz de Irmã Débora, devotada obreira da região a que pertenço, chamando-me, insistentemente. Saindo de meu ambiente, agora mais tranquilo do que há pouco, pude ver a nobre religiosa, em seu hábito cinza, com aqueles olhos negros em destaque, acompanhada de um menino, um rapagote, franzino, esquelético mesmo, que mantinha a cabeça baixa, em humildade cativante.

       “Padre” - disse ela- “este é Thimoty”, - e estendendo-me a mão completou - “É para que o senhor o encaminhe, por favor.”.

        Observando mais de perto aquele espírito tristonho, pude ver em seus traços o sofrimento espelhado em cada ponto. Os pés esparramados, ainda grosseiros, as pernas muito finas, com os joelhos salientes. No ventre algumas marcas, como as de um chicote, e o tórax, prensado, como que espremido pela angústia. O pescoço delgado sustentava uma cabeça pequena, ovalada. Mas o detalhe mais chocante em sua figura era um enorme buraco aberto no peito. Ali, com as vértebras perispirituais ainda à mostra, notava-se que dele haviam tirado o coração.

         Atribulada como sempre, Irmã Débora já se despedia, enquanto eu, segurando a mão do jovem, com energia e ternura, o conduzi para o pequeno salão, ambiente onde procedíamos a triagem.

         Ele não parecia estranhar a situação, o que não é comum nestas paragens, onde muitos chegam sem a mínima noção de que não mais possuem o provisório invólucro carnal. Sua indiferença, submissão e placidez, de certo modo me deixaram confuso.

        - Como você está, meu filho... Está bem?
        Olhando-me de frente pela primeira vez, com voz tímida, quase sumida, indagou:- O senhor fala o inglês, da Libéria?

         Achei interessante a pergunta pela ingenuidade, e expliquei:- Olha, aqui nós falamos uma língua que todos entendem... a do pensamento...e aí está incluída a da Libéria... Você veio de lá?

       - Sim, sou de lá- respondeu Thimoty - já se acomodando num dos bancos em torno da mesa.
       - Pois bem, - continuei- agora você sabe que estamos em uma outra dimensão, que você não possui mais o antigo corpo de carne, e que seu espírito seguirá para um posto de reestruturação, de apoio. Nós vamos ter que recompor as coisas, como o seu coração, por exemplo...
        - Mas eu ainda não posso ter meu coração... Ainda não... - suspirou resignadamente.

      A afirmação resoluta me surpreendeu. Geralmente os que aqui chegam de alguma forma mutilados, se alegram quando da possibilidade de se lhes restaurar o que perderam.

      - Mas, por que você não pode ter o coração de volta, filho?
      - Ainda não ganhamos a guerra, senhor... Quando fizeram o ritual prometeram dar-me o coração de volta, quando ganharmos a guerra.

      Contou-me o jovem, que em sua tribo, na Costa Africana, numa aldeia próxima à Monróvia, capital liberiana, é comum esse tipo de sacrifício, arrancando-se com facas o coração de crianças, e depois, repartido em pedaços, serem comidos estes por guerreiros e chefes das facções insurretas. 

      Soube estar na erraticidade desde fins de 1993. Recusara-se algumas vezes a seguir com os batedores do resgate, por acreditar que assistiria à vitória. Narrou os horrores porque passam seus parentes, ainda hoje, naquela região africana, feita nação a partir da reunião de escravos fugidos ou banidos das Américas, desde os meados do século XIX.            
      Custei a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, nos dias de hoje. Falou da fome, da extrema pobreza, miséria absoluta, de guerras fratricidas, de extrema crueldade de todos os lados. Contou da tristeza por não ver futuro para seus parentes. E acentuou a impiedosa indiferença, do silêncio e omissão, de toda uma sociedade, em torno e dentro do país.

       Isso está acontecendo agora, no momento em que leem essa carta, sem que grande parte do mundo saiba, e os que sabem, muito pouco fazem para impedir que ainda existam, a perambular no espaço, espíritos como o de Thimoty, o menino sem coração.              
       Que isso caia na consciência das pessoas de bem. como alerta sobre o quanto ainda é preciso ser feito, o quanto ainda precisamos evoluir para que se possa merecer o emblema de Raça Humana.


Padre Aldo- espírito-

(Mensagem recebida em 28 de Junho de 2009 no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada- Sabará MG, pelo médium Arael Magnus. fundoamor@gmail.com
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