quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Poesia de Fernando Pessoa - Espírito -



Sou Eu, Mãe...


I

Cerrados os olhos ainda assim também enxergam
Entre escolhos dos escombros agros idos, exíguos.
Que neste infindo turbilhonar do éter a ti segregam
Criando interno hino lúdico, dos conceitos ambíguos.

Reminiscentes luzes, plangentes virtudes, te ergam,
No escoimar de jaças que te sucumbem aos perigos
Realinhar de forças das naturais feições que vergam
A descompromissar leis de incréus, retardos jazigos.

E como ao feito, do morto revivente da Betânia
Soluçante emoção, dissolvida em mirífico desvelo,
Estancados, loucos sentimentos, de agra cizânia
Gritantes, que prossegue a vida, e é em teu zelo,
Que osculo a cada um dos teus, Ó Lusitânia.
II
Doutro, onde destilo os mares do veneno, pregam
Que as pagas não bem pagas te sejam esquecidas
Em pleno exílio, doze mil velhos pecados renegam
as homenagens vãs, que do além foram rendidas.

Alhures espreitam apensos, qu´em laivos s´esfregam
No incorruptível tribunal avesso de tuas várias vidas
Louvando os insultos que nas dores a ti te entregam
Anatematizando inconsciências frias, ressequidas.

Tal como nau tornante deslizo olhar ébrio à linha litorânea
Encharcada de alegria, exulta, brilha, salta, aira, festejante
A assemelhar-me tresloucada alma, em incurável insânia
Gritando que prossigo redivivo, ativo, em ardor retumbante!
Neste apertar ao peito a cada um dos teus, Ó Lusitânia!
III
Vertigens de rolar despenhadeiros, dos quem navegam,
Na certidão ignota de bardos aventureiros sós, tardios
Impossivelmente circunscritas paragens que refregam
Com sonhos irreais dos sepulcros, a contemplar, vazios.

Sou eu mesmo, o que volta rogativo, aos que me negam,
Nenhuma tolerância aos imperceptos triunfos, nós vadios
Mas, toda bondade aviltada em amor que os ódios cegam
A este amor tão grande que no eu de mim derrota os brios

Sou eu mesmo, Mãe amada, semente torna extemporânea
Por nada ter de si, a ode te exorna em puro áureo acalanto
Querendo de ti sentir Olísipo, a grita, a paixão insucedânea
E repetir de inspirada harpa, bel fremir de eivado encanto
Amo-te, amo-te muito, amo-te sempre, ó minha Lusitânia!

Mas, como deplorei, tal que eu vejo- Milagre- não possam vê-las,
Lágrimas, de ao despejar brilhantes, mais que sóis, nem retê-las.

Fernando Pessoa- espírito
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no
Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)



AMOR


Tomei, como de assalto, a mente a passar, alto, pela iluminada senda.
Roubei, com doces fluidos, os pensamentos e ruídos. Ceguei-os, sem venda.
É bem mais natural do que nos contam, e apontam. Nada místico. Só holístico.
Porque a sê-lo precisaria cotejar a religião do franco lionense, e então faria,
Habilitação em espiritualidade, com conceitos inamovíveis, de igrejas estanques.
Ou então me entronizar nos ritos esotéricos, misteriosos channelings ianques.
Ou (pior ainda!) me converter aos famélicos exércitos das ganãncias, histéricos.
Quem sabe me adestrasse na iniciática dos vedas, budistas, feiticeiros, alquimistas.
Mas disso não tive falta, de mim não se cogitou, ao menos, se crença eu tinha.
Talvez soubessem que não a tenho (nem ainda), a não ser a profissão da língua.
(Essa sim é minha religião, de humanas felicidades, meu Nirvana e meu Hades)
Se bem que, ando a desconfiar (desconfio), que, dentro, estou a promover desvio.

Hoje é mais incomum de vê-la, mas a mediunidade, por sê-la, veio antes de nós.
O sopro é superior à carne. No princípio, no meio e no fim, é o Verbo, é a Voz.
Eu mesmo, em pessoa (?), na última parada o fui, mediano “médium”, inconsciente.
Ou melhor, talvez fingida (?) inconsciência, porque eu sabia que o era, certamente.
Mas, sejamos justos comigo; Nem sempre eu o sabia. Só quase sempre, (de viés).
Psicografei de mim mesmo e admirava ler-me como a revelar-se um novo Moisés.
No fundo de meu baú garatujei mil reformas, em formas que nem Lutero sonhara.
Muito mais que Homero, fiz Ilíadas e Odisséias. De Camões, novo Lusíadas.
Até de Eça, Camilo, Antônio, Junqueiro, Vieira, recebi em inconsciente transe.
De Lacerda, alternei, ora ele, ora eu. Hoje recebo Saramago (... o cenho franze).
Vi, de Ulisses, os trabalhos em sua pole, e carreguei a flor, que fiz na via feliz.
De Tagore os meus versos vicejaram, copiados, copiosos, opiosos. Foi de mim,
“-Não podes ver o que és. O que vês é a tua sombra.” - Eu quem disse isso, sim.

Mediunidade, ponte, travessa, dupla pendência, canal de força, divina demência.
Well, I can almost see end of the tunnel. After all...

Só me enxerguei por normal quando heteronimicamente escrevia. Fingia.
Nunca aceitei “por quê?” isso não seja pasta obrigatória, de ensino elementar.
Sou a um só tempo “médium” e mentor, canal e avatar, e penso, apesar de...
Bernardo, Caeiro, deles era fonte, passagem interferente, canal, primamente.
Com o Álvaro difere, porque era ele quem o era, eu pensava, ele não. Então...
Talvez por isto não o tenha mais visto, nem a Crowley na imensa sala de estar.
Se bem que de muitos nem notícias tenho. Tantas que, sem graça, perguntas faça.
É como na coxia dos teatros: palavras doces se azedam e as máscaras se quedam.
Eu mesmo ficava a pensar que era bem pior do que o sou, estaquei na tangente.

Ninguém pode imaginar quanta decepção espera belos “santos” graúdos, sisudos... Ah...
Recheados em galardões e ungidos em cantochões, de auréolas postiças, clamam.
Ficam na fila, regurgitantes, a exigir, dedo em riste, um “pouco mais de respeito”. Triste.
Muitos até se nomeiam credores, mas trazem marcadas na testa, por falhas, a besta.
Quanto mais argumentam a se justificar, mais o lodo revolvem, e os pesos os envolvem.
Outros, surpresos, extáticos, aturdidos ficam. Nem crêem, quando ao pódio são trazidos.
São os melhores, são muitos, que por santa humildade pedem nova conferência. Mudos.
Remoem a duvidar que fizessem tanto bem. Não crêem, mas são os melhores. Em tudo.
Invariavelmente, rogam retorno à lida. Não à vida, mas ao trabalho, e na faina se doam.
E são, estes, a salvação, os anjos de guarda, a proteção na crosta. Inteiros se doam...
Claro, os invejo, porque sempre representam o desejo do que se quer ser. Entoam,
Que a religião deles é Amor, a única, verdadeira, que Deus Criador, se a tiver, deve ter.

Fernando Pessoa (by Richard Kings)– espírito –
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública
 no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)
Em abril de 2018 estive no Chiado, em Lisboa, onde colocaram uma estátua em
bronze do amigo, que em espírito nos visitara alguns anos antes.

CHIADO

Ainda me calavam fundo as emoções no peito
Setenta e dois dias depois de receber o preito:
Homenagens pelo meu inacreditável centenário.
Ali, naquela praça, feliz sorvi o amor, o respeito
De amigos de hoje e d`antes, meio sem jeito
Cantei, dancei, chorei, no meu aniversário.

Mas aí... sereias latejaram sentidos a-dor-mecidos.

Percebi meu coração arder, como infinita brasa
A consumir-se inteiro em dor ímpar, profunda
Não é dor comum, porque aquela a tudo arrasa
É sem limite ou termo. De fogo o mundo inunda.

Sinistra coluna espessa de malcheiroso fumo
Subia a afrontar o céu, mudando o tom e o rumo
A rodo destruindo de modo grosseiro, pavoroso.
Avermelhando os ares, labaredas desafiantes
Faziam aparecer num amado cenário de antes
Um gigantesco inferno, mais quente, tenebroso.

A média pombalina ardeu, em feérico fogo e pranto
No incêndio o coração a derreter saudoso encanto
Marca de dor dantesca, apreendida, em cada rosto
Descomunal miséria moral, caindo sobre escórias
Calcinando os fatos, abraços, imortais memórias
Lágrimas sem fim de um vinte e cinco de agosto

Vi anjos, chamuscados, segurar, de águas, ponteiras
Co’s heróis de Cacilhas, sem nome e lugar, maneiras
de abafar devorador monstro, vertedoiro de tudo em tição.
Horrendo demônio a estrangular a aura, a alma, o coração.
E agora, revivendo, amargado, petrificado espectro vejo
O chorar incontido, tão dorido, inda a transbordar do Tejo.

Fernando Pessoa via Bernardo Caeiro - espírito
(Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)



Pedido

Olhando pelo fixo monóculo de minhas imagens fátuas
Reivindico aos pombos mais respeito com as estátuas.
                                                                                            (Fernando Pessoa)- espírito


Poesia Brasiliensis

Versejar desta maneira, em modos de verbos novos
É em rua de cascalho, descer u’a carroça com ovos.
                                                                                             (Fernando Pessoa)- espírito

(Recebidos pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras- Sabará, em 25 de outubro de 2009)

assista o vídeo psicofônico em http://www.youtube.com/watch?v=iwk1OONse4I