HOLOCAUSTO À BRASILEIRA
Eu estive no sepultamento, em Del Castilho, do corpo da menina Ágatha, no domingo, fim do inverno.
Faço parte de um grupo de entidades que procura dar apoio aos moradores das comunidades do RJ, e com um dos avôs (espírito), estava ali, solidarizando-me com a família, diante do trágico desfecho.
Aquilo foi um brutal assassinato, cometido por um despreparado e insensível agente do Estado, autorizado a matar e a mentir. Acolitado pelos colegas e pela corporação, inventou uma historinha fantasiosa, a fim de justificar seu condenável ato. Foi desmascarado.
Era final de inverno, mas não final do inferno a que submetem os governos, àquela população, sofrida, já acachapada pela miséria e abandono dos órgãos e serviços públicos.
Conheço bem a região em que a menina foi morta, Fazendinha, no Complexo, e sei da total incoerência das explicações dadas pelos assassinos (autor e mandante, comando e governo). É um lugar de grande concentração de populares, de muito movimento, e por mais que fosse grave a ameaça dos supostos bandidos (dois garotos numa moto), jamais se conceberia disparos a esmo, como o que levou tristeza e dor a todos os que têm coração e família. Sei como é o movimento na esquina da Austregésilo com a Sra. da Glória. E não havia confronto!
Apesar de, na espiritualidade, termos conhecimento das razões e motivações de episódios como este, sabemos também que, casos assim, se prestam a fazer despertar na sociedade a importância da mudança de atitudes, de rumos e de escolhas.
Tivéssemos uma justiça real no país, não apenas o despreparado policial assassino iria a julgamento, mas, também os que autorizaram esse feito, incluindo sobretudo os governantes que essa liberdade de matar, apologizam.
A polícia no RJ (e de resto em todo o país) é composta, em sua grande maioria, por pessoas desprovidas de preparo, sentido ético, sensibilidade social, padrão moral. A sociedade (consciente disso!) paga por forças de segurança composta por um grande número de bandidos armados, violentos, assassinos, mercenários, corruptos e inaptos para as graves funções que a estes competem. Infelizmente, a maioria!
Tudo pago pela sociedade.
Uma estatística recente mostra que, nos períodos de 20 anos pra cá, 4 em cada 10 crimes e assassinatos, estão envolvidos policiais.
E quando estes elementos encontram o apoio e o estímulo dado pelo Estado, pelos governos, deixam vazar toda a raiva, a estupidez, a instintiva ferocidade e sede de violência que os acompanhavam desde antes.
Eu vi o choro da comunidade no cemitério de Inhaúma. Parentes, vizinhos, gente humilde, simples, de sentimentos puros. Havia a desolação, como de resto em todo o Rio, todo o país, e quiçá, do mundo que tomou conhecimento dessa repetida barbárie.
Mas, apesar da comoção, já na segunda feira (o enterro foi no domingo) era primavera (23 de setembro), e parecia nada ter acontecido. A comunidade já se mostrava indiferente, sem que se notasse modificação de postura e conceitos.
É uma perigosa amnésia social, que não deveria acontecer. Parece uma defesa, mas funciona como manutenção do mal. A situação se acomoda por não haver reação.
Assim, os assassinos maiores e mandados, continuarão sua sanha, na indômita e idiótica intenção em violentar as comunidades pobres, miseráveis, sofridas, relegadas à indiferença e às agressões dos maiorais, enquistados e acrisolados em seus provisórios cargos.
Li, emocionado, a crônica de Rubem Braga sobre a tragédia na favela. Estamos na mesma colônia, mas em setores diferentes. Foi por causa do poema que nos comunicamos.
Confessou-me o capixaba inspirado, que não pode detalhar mais, sobre aquilo que preferiu conotar como "profecia", mas, cujo encaminhamento para o real, infelizmente é muito possível.
Disse-me ele que seria a "reação à danação". Torçamos para que não.*(vide link)
Neste fim de novembro chegam-me notícias sobre a insistência do governo federal em aprovar um estranho pacote anti-crime, com a enfática pretensão em implementar a famigerada excludência de ilicitude, que em síntese se define por "autorização e liberdade para matar" dada a policiais. Para os ladrões do povo, proteção. Para os favelados, morte.
Podem, os "panoquentistas e louvaminheiros", tentar explicações exóticas de que "não é bem assim, de que as coisas são pra melhorar, de que isso funciona de outro jeito". Mentem os que isso apregoam.
No vigente código penal já existe essa figura macabra, mas contida por uma série de portarias, que impedem a vulgarização dessa "carta branca" de impunidade.
É do mesmo governo que coloca um trabuco na cintura de Jesus... e explica essa "necessidade"...que cristianismo xiita!
Ao invés disso, se quiserem realmente proteger a sociedade, deveriam se empenhar em melhorar os quadros de segurança, com melhor aproveitamento da tecnologia, da inteligência, e ao invés de aumentar, reduzir o número de armas em todos os setores, inclusive as de uso da própria polícia.
Menos armas, no rotineiro, será sempre melhor.
A utilização de armas letais pelos agentes policiais, deveria ser restrita aos que possuem responsabilidade e equilíbrio para portá-las. Isso, de pronto, restringiria hoje, à redução de mais de 60 por cento no número de policiais que possam tê-las. Constatem!
Que se estabeleçam parâmetros para o porte destas, inclusive pelos policias de serviço preventivo ou ostensivo.
Detectada a necessidade de seu uso, aciona-se o comando que autoriza a equipe armada para o combate à criminalidade. Hoje, guardinhas municipais, totalmente crus, ostentam suas "ponto 40", e se revestem de uma temerária autoridade. E os abusos vêm, a rodo.
Isso é que enseja tantas tragédias, tantos assassinatos, acobertados na maior parte, por camuflagens, negativas mentirosas, teatrinhos mal ensaiados.
Confiram e copiem o que ocorre nas melhores civilizações atuais, e implantem, inovem, mas coíbam essas desgraças, limitando o uso dos mortais instrumentos.
Assusta-me ver bombeiros, heroicos e valorosos, portarem em suas cinturas, as armas de grosso calibre! Incoerente, paradoxal! Pra que?
Vejam as estatísticas das armas apreendidas, e constatarão que mais de 70 por cento das armas raspadas provém de policiais! Apesar da notícia de alguns "assaltos" arranjados, a maioria é negociada pelos próprios agentes de segurança! Não é segredo pra ninguém!
Excludência de ilicitude, como a liberação de porte de armas, é estímulo à morte de favelados, pretos, pobres, em sua maioria, na faixa etária de 14 aos 22 anos.
Estes, são frutos podres, gerados por governo de ladrões, corruptos, irresponsáveis recentes. Precisam ser resgatados, reconduzidos, acolhidos pelo Estado. Não mortos por mandos e desmandos de "autoridades" que, com medidas como estas, em muito se assemelham aos que promoveram os holocaustos na Alemanha e na Armênia.
As justificativas acadêmicas virão para explicar, do mesmo modo como fazem agora com as estúpidas mortes por assassinatos, como este da menina Ágatha e milhares de outros.
O poema tá valendo!
Herbert de Souza- espírito
Mensagem recebida pelo canal Arael Magnus em 28 de novembro de 2019 em Coroa Vermelha- Ba
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