PRIMEIRA CARTA AO
AMAPÁ
ADVERTÊNCIA
Padre Julio Maria Lombaerde - S.D.N.
Em 1913, a 27 de fevereiro,
uma quinta feira, cheguei em Macapá. Depois de viagem assustadora de barco, aportamos
debaixo de um intenso temporal que durou todo o final de semana. A primeira
impressão era muito ruim. A lama, a pobreza, as crianças doentes, velhos caídos
debaixo de árvores, índias com pequeninos nos colos, mendigando, algumas
palafitas próximas ao atracadouro. Um quadro triste. Comigo estavam os padres Joseph Lauth e
Hermann, irmãos de Congregação, que me acolheram, temerosos porém de que eu pegasse o
primeiro barco de volta a Belém.
Mas, ao contrário, desde que pus os pés
nesta terra, uma emoção extraordinária tomou conta de mim e senti a convicção
de que o Senhor tinha me incluído em seus projetos. Meu sentimento era de alegria,
manifestava isso. Meus anfitriões pensavam que eu já estava com a febre... pois
não compreenderam, de pronto, como eu poderia estar feliz com toda aquela
situação.
Era um povoado raso, com casinhas baixas,
e poucas lojas de comércio, as vendas, as bancas de frutas e algumas
hortaliças. A igreja era acolhedora, agradável, com bons paramentos, mas para
que se chegasse lá era complicado. As pessoas tinham que andar pelo barro, pela
água. O primeiro nascer do sol, mesmo sob chuva, foi minha unção e bênção.
Gostei das pessoas e senti o amor à
primeira vista, principalmente para os mais pobres, os mais sofridos. Logo perceberam isso. Meu objetivo era salvar almas, evangelizar, mas com as
epidemias de febre, malária, úlceras, pneumonias, tive que me valer de alguns
conhecimentos de medicina obtidos em minha estada na África, para também tentar salvar
corpos, vidas. A notícia correu e na região souberam do padre que tratava da
febre e isso tornou-me muito popular. Fiz uma viagem perigosa até uma aldeia de
índios Tumuc Umac e de lá trouxe muito saber e conseguimos sarar muita gente
com medicamentos das plantas.
Poucos sabem, mas mesmo tendo nascido na
Bélgica (Waregen- Kortrijk) me
naturalizei brasileiro, por amor a Deus e a sua gente. Ao ver o crescimento da
“precoce perda da inocência”, da prostituição em Macapá, de jovens e crianças à
beira do porto, decidi lutar contra esse monstruoso mal. Mas pouco podia fazer,
pois eram inúmeras minhas atividades pastorais e “médicas” e, com recursos de
Deus, sob a intercessão de nossa Mãezinha Maria, decidimos criar uma
congregação feminina, e assim nasceu a Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria. Essa
foi a semente das Congregações Sacramentinas e outras instituições que se
sucederam, das quais fui usado como instrumento para fundação, hoje espalhadas por
aí, na prática do bem, intercedendo efetivamente no crescimento individual e
coletivo.
Foi nesse tempo
que tive uma das maiores manifestações espirituais que vivi, por ter contraído
a sezão, com muitas feridas, febre altíssima, frios destruidores. Quando as
esperanças de todos se esvaíam, certa madrugada iluminou-se meu quarto como um
farol e surgiu no meio da luz Irmã Celeste, uma das que participavam da nossa
congregação e que havia morrido algum tempo antes. Falou algumas palavras,
evocou Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e desapareceu. Todas as irmãs a viram
e disseram que fiquei prostrado, desmaiado até o meio dia seguinte. Ao acordar
estava são, forte, lúcido e as feridas desapareceram. Foi um milagre!
Nos tempos
seguintes a doença na região recrudesceu e isso fez com que fôssemos com o convento
das irmãs para perto de Belém, mas o coração jamais se afastou de Macapá. De lá
segui para o meu destino, principalmente na também muito amada Manhumirim, nas
Minas Gerais, onde passei a maior parte do tempo que me foi dado, onde também exerci
o amar o povo, sobremaneira os pequenos, os sofredores.
Nesses quase 16
anos que vivi em Macapá procurei principalmente ser útil aos pobres, às
crianças, à juventude, e jamais recusamos qualquer pessoa nos tratamentos, no
acolhimento, na misericórdia e na caridade. “Sursum Corda!”
Quando
um numeroso e qualitativo número me procurou no início deste ano, sobre o
movimento de restauração moral do estado do Amapá, não vacilei, pois amo essa
terra e já bebi dessa água. Não há como refutar. Há radicado em meu coração
aquele mesmo amor da chegada.
Trouxeram-me um
levantamento com informações e as conclusões são as mais alarmantes e
lamentáveis, mostrando que há uma generalizada infecção em todos os pontos do
organismo político/social. Assim, a corrupção grassa nos diversos níveis de
governo, tanto estadual quanto municipais e nos órgãos federais aqui
instalados. A deplorável falta de controle das verbas, dos gastos, as propinas,
os desvios, a apropriação indevida de dinheiro que deve atender às necessidades
da população se verifica em todos os pontos para onde são enviados os valores. Não
consegui ainda ver exceções e isso causa estupefação! Essa intoxicação do mal é
fatídica e levará ao colapso absoluto, em breve, se não for contida, controlada,
se não extirpada pelo menos grandemente reduzida.
. Executivo, Legislativo e Judiciário necessitam
urgentemente de grande profilaxia, limpeza pesada, faxina geral. Isso inclui as estâncias
maiores e as municipais. Como exemplo, o desnível e a ilegalidade de
salários, proventos e subsídios que persistem em 16 municípios, com
avultamento na capital. A situação do Parlamento estadual é vexatória,
vergonhosa, e dos 24 ocupantes, 27 estão comprometidos por ação e/ou por
omissão, simultaneamente. Aguardem os dados.
As negociatas
feitas entre os membros dos 3 poderes se processam quase às claras, numa
vulgaridade da ação criminosa. Inaceitável quadro! O comprometimento moral está
cada vez maior, e as forças que precisam, podem e devem se interpor a essa
súcia, de corrupção desbragada, estão caladas, silentes, distantes, e muitas,
infelizmente não apenas conscientes, mas também participantes das tramóias, dos
desvios.
Igreja, clubes
de serviço, entidades religiosas, associações de têmpera e força moral precisam
se levantar contra esse descalabro. A imprensa precisa responder com a lisura e
honestidade que dela se espera, sem submissão, sem agachamento, sem usufruir de
recursos escamoteados, apodrecidos pelos roubos.
A indignação será coroada por Deus, mas a
covardia terá um alto preço. Não se pode
conceber impunemente essa derrocada do caminho correto, digno, principalmente
quando olhamos ao redor as carências, a pobreza, a miséria, a doença, o
abandono dos simples, dos marginalizados. Podemos hoje considerar que os ¾ de
milhão de pessoas de hoje no Amapá mais de 650 mil vivem na penúria, na
miséria, em condições indignas, insalubres, desumanas.
Perguntariam:
Mas o que podem os espíritos, as almas, que não têm corpo físico, fazer?
Assombrar?
Creiam, (não
duvidem!), o preço da descrença pode ser muito caro: Podemos mais que
simplesmente assustar. Podemos (e já estamos fazendo isso!) interferir nos
rumos, pensamentos, destinos, porque isso nos foi permitido por ordens de Mais
Alto. Certa vez uma jovem de uma pequena província francesa conduziu o país à
liberdade e à vitória, inspirada por enviados celestiais que lhe ditavam os
passos. Existem novas “Joanas D’Arcs”. Os que puderem ouvir ouvirão. Os que
puderem ver verão. Mas todos sentirão nossa presença e ação.
Essa terra que
tantos amam e que por ela deram o melhor de si, no esforço para a conquista de
uma sociedade equilibrada, com probidade e caráter. Esses que se empenharam na
educação, na preparação, ao assistir a esse derribar da decência, da honradez,
agora se movimentam para reverter esse giro desgovernado do leme. Não
pretendemos o ataque a pessoas, mas vigorosa e intimoratamente, com nossa senda
iluminada pela tocha da verdade, com a Fé em Jesus e a confiança na Mãe desta
terra, a Santíssima Mãe Maria, nos atiraremos contra o erro, contra os desvios,
contra a corrupção, contra a saga imoral que impera e cresce nos níveis de
comando desta região tão cara a nossos sentimentos. Os que se desviam que se
arrependam antes que os escândalos ocorram, porque os faremos esguichar do chão
como fontes termais, no espetar das pustulentas e mal cheirosas mazelas. A comunidade
de bem precisa se voltar para as orações, para a reflexão diante da incúria, e não
se omitir, sem cumplicidade com o mal. Não há luta por lados ou esquadrões, mas
sim pela virtude, pela honestidade, pela dignidade humana.
Eu e todos os
mais de 12 mil que estão empenhados nessa ressurreição do Amapá vamos nos
comunicar mais vezes, de diversas formas. Não dependemos de pessoas ou grupos,
e ninguém é indispensável, pois nossos rumos e objetivos contemplam causas, não
indivíduos ou facções. Terão, daqui a pouco, a certeza de que “Sementem ut feceris, ita metes”- Cada um colhe o que
planta.
Estaremos
presentes nos cultos sérios, nas missas comprometidas com o Amor de Cristo, nas
reuniões de pessoas de valor, no encontro daqueles que se postaram diante do
perigoso desfiladeiro, independente de rótulos ou preferências. Não apenas como
assistentes, mas como inspiradores e até mesmo instigando uma postura mais
enérgica, mais crítica e atuante, já que o quadro deletério que se apresenta
exige Força e Fé. Isso urge, pelo tamanho da fenda moral que se abriu em rio de
lama, putrefata, asquerosa, inadmissível.
Pelo ardor
missionário que evoca minha Fé e congregação, conclamamos a toda a sociedade
com bons propósitos a esse soerguimento. Conversar sobre isso, falar disso é
uma oportunidade que temos de mostrar nosso amor a Deus, no cumprimento de suas
lições para a evolução de cada um, para o bem geral.
Que Jesus e nossa Mãe Adorada Maria de Nazaré possam abençoar
a todos.
Pe. Julio Maria De Lombaerde – S.D.N. – espírito-
“Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam -"Não a nós,
Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória”
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NOTA ANEXA- Conheci o Padre Julio Maria
primeiro pelas notícias. Sua coragem e determinação percorreram não só o mundo
eclesiástico, mas ultrapassaram fronteiras. Estóico, corajoso, caridoso,
obstinado a melhorar o mundo, esse brasileiro nascido na Bélgica, mas que se
dizia francês, sempre recebeu de todos nós os mais fervorosos elogios, pelo
espírito empreendedor, pela fulgurante Fé, pela entrega da vida ao semelhante,
minorando dores, curando feridas do corpo e da alma. A santificada missão desse
bem aventurado discípulo de São Luis, servo intransigente da Santíssima Maria, trouxe
à Humanidade frutos que até hoje vigoram e se multiplicaram. Vim saber que uma
de suas avós era aparentada com minha querida mãe, também nederlanda, da região
em que nasci, Leiden. Em sua passagem por Macapá, o bom Padre Júlio deixou
indeléveis sinais, como as pioneiras obras, da criação da Banda São José, o
Cine Olímpia, o colégio, o convento, a primeira escola de teatro, além de
projetar e coordenar obras importantes do município que até hoje auxiliam à
comunidade. Indo para Minas ali também edificou pela Fé e para a Glória de Deus
a importantíssima Congregação Sacramentina, colégios, hospitais e muitas outras
de interferência benéfica na vida comunitária, além da criação de um jornal “ O
Lutador”, autêntico, destemido e sábio bastião da Fé.
Deus nos premia com
essa iniciativa e com essa abençoada presença e atuação, tenhamos certeza
disso.
Esta é,
concretamente, a intercessão do Espírito Santo.
Que Jesus nos
conduza, sempre.
Padre Aldo- espírito*
-Padre Aldo (Baldwin Van Pettersen) é o coordenador do Projeto
Alfa- Almas libertas Francisco de Assis.
Mensagens recebidas em sessão reservada no CEFEC- Valparaíso de Goiás,
pelo canal Arael Magnus em 29 de março de 2014.
Entre em contato conosco pelo fundoamor@gmail.com
Assista clipes de 400 músicas mediúnicas das mais de 1700 recebidas por Arael Magnus em
www.youtube.com/user/TVINTERMEDIUM/videos?view=0&shelf_id=1&sort=dd