Dom Helder- espírito

EPÍSTOLA DO ALVORECER DE MINHA ALMA

https://www.youtube.com/watch?v=Yd_mRMk273I

Meus irmãos, filhos como eu, de um Pai Misericordioso e justo, Graça plena! Que a inspiração dos anjos que nos tutelam, possa se manifestar, nessa oportunidade que a mim é dada, para que meu pobre e imperfeito entendimento possa oferecer realmente uma contribuição para a melhora de compreensão de todos.

Nesse oceano de incertezas que impede a clara visão humana, precisamos ser gota d'água, pura, cristalina, fresca, capaz de, somadas às outras, dessedentar as ignorâncias, as trevas do egoísmo e da maldade. Que sejamos isso, no cotejar da virtude em ação, em exemplo, em prática. Feliz o que vence suas mazelas e se torna gota do Cristo no cálice da oferenda humana.

Trago-lhes o testemunho de minha grande euforia em aqui estar. Alegria de poder sentir e medir quão grande é o amor de Deus por nós. Sublime ênfase pela vida, pela encarnação... e pela redenção na carne e fora dela, na eternidade do espírito.
Meu esforço agora se intensifica na preocupação em cometer menos erros possíveis, e deixar aos que isto isto ouçam (ou leem), ao menos um alerta, um ponto de reflexão, na pretensão pouco modesta até, de um desvendar de dúvidas, de questionamentos, em ensinamentos.
Mudar não é só trocar, mas também aperfeiçoar, evoluir degraus, no pensamento, na maneira de se comportar diante da vida, para continuar maior, sendo o mesmo, em essência e objetivos. Feliz o que isso entende,
Num desejo abrangente, rogo a Deus que permita que nosso largo egoísmo seja o menor possível, senão extinto, e que nossa visão espiritual se liberte de sua miópica estreiteza. Não mudei muito, continuo atado a medos e confrangimentos, mas ampliou-se em mim a convicção da responsabilidade que pesa sobre os ombros dos que (por méritos e sobretudo pela Misericórdia Divina) lideram, conduzem, direcionam e apascentam o rebanho humano.
Estou, abraçado aqui, por tutelares luminosos, recuperando-me de desvios e tropeços, de equívocos e imprudências, cometidos, muitas vezes, pela enganosa suposição de poder ajudar, fora das pegadas abençoadas de Cristo Jesus. Fantasiosas sendas pintadas como libertadoras trouxeram decepções, pela falsidade (e fraqueza) das políticas mundanas.
Muitas destas dívidas foram contraídas por não assumir como líder, a obrigação em conferir e redirecionar rumos, comportamentos e atitudes.
Dentre estes, os efeitos que mais pesam são exatamente os que me ensejaram a compulsória pena, sofrida e amargurante, em passar dois anos e meio numa colônia de desequilibrados, e ao voltar à original vida do espírito, eu o era!. Ali compreendi melhor o significado da interior educação, da exigente doma dos instintos, da necessária vigilância, tanto quanto aos atos, palavras e omissões!

Na recente experiência na carne, por conveniência, a fim de não desagregar "aparelhos políticos", para não perder correligionários, colegas e confrades, e também pela obnubilada visão de liberdade, assisti, convivi, compactuei-me, estimulei e empreendi, omiti juízo, em situações de desvios, de devassidão, de abominação. E isso gerou tributos a quitar.
Recordo-me agora, que no ano 65, estava eu na sala do Vaticano, à espera de uma autorização para falar com o Papa Paulo VI, quando vi no teto, um afresco de cores muito vivas, que agressivamente mostrava os festejos de Baco, com figuras de mulheres nuas a exibir-se para homens de olhares esgazeados, bêbados, enquanto algumas se esfregavam na impudicícia ao mitológico deus pagão romano. Cores vivas mostrando um negro quadro de bacanal! Hoje a memória fotografa a cena com a triste revelação de que eu também, tive, de certo modo, participação nesta derrocada moral. A invigilância custou e ainda custa muito no meu extenso rol de contas a pagar.
No meu imperfeito e incompleto compêndio de conceitos pessoais, alguns são preciosos e imutáveis, como a condenação aberta a toda e qualquer discriminação. Mas, compreender é muito diferente de compactuar. Jesus compreendeu e amparou, com argumentação luminosa, àquela mulher adúltera, e enfrentou com o raciocínio sábio, aos que queriam apedrejá-la. Livrou-a da violência estúpida, mas, advertiu-a..."..se não a julgam...nem eu...mas VÁ E NÃO PEQUES MAIS!"... reflitamos...
Importante entender que há também (inquestionável, sei-o hoje) uma cumplicidade e participação na queda humana, pela ausência de orientação e direção condutoras aos caminhos do equilíbrio. Não se pode confundir a "caridade intelectual" com a omissão delitiva do que enxerga o desvio e não o denuncia, conserta-o ou não o combate. O senso crítico (e crístico!), a análise dos meios e consequências, a apreciação sob o ponto de vista crivado pela virtude (virtuas.. nec plus ultra!), e a correção de rumo pela palavra conselheira, isto é o que diferencia nossa fraternidade cristã da complacência com o erro.

Agora, despojado do envólucro carnal, tenho a total consciência de que estou vivo, tão lúcido (ou às vezes tão abestalhado!) quanto antes. Permanece em mim a mesma inquietude, a indignação, a inaceitação das desigualdades e sofrimentos dos pobrezinhos, mas muitas dúvidas se aclararam. Sei hoje de coisas...que já sabia antes, o que no entanto minha estupidez e a arraigada teimosia em não raciocinar, aferrolhada pela asinina viseira do fanatismo, não permitiam que eu as enxergasse.
Ainda sinto esmagado o coração, ao constatar a dor, a miséria, o sofrimento. Mas quedo-me estraçalhado pela enorme cegueira espiritual minha e de minha Igreja querida, que permanece acorrentada aos dogmas, mistérios e mormente ao poder material, temporal. Sinto (e isso dói) que não entendi o verdadeiro significado da vida, efêmera passagem terrena. Não entendi, enfim, ao próprio Deus, Pai Amoroso e Justo. Não ouvi Jesus, que pediu- "Não ajunteis os tesouros da Terra, mas ajuntai os tesouros do Céu".

Empreendi esforços, raciocínio e lutas, a fim de reduzir a pobreza material, usando para isso os meios mais radicais, até mesmo alguns não muito legais. Meu posto de controle e comando foi usado como mira de armas mortais, revoltas, levantes, na ingênua e ilusória pretensão de um mundo igual, como a querer corrigir os caminhos traçados pelos próprios indivíduos, para sua regeneração. Falei de riquezas, de posses, de poder, de domínio pela força, pela violência se assim o exigisse. Minha humildade era real, sincera, verdadeira, mas meu discurso era o da luta, da guerra, da revolução, da clandestinidade. Incoerentemente pretendi a paz, através da guerra. E eu falava em nome de quem é a mansidão, a bondade, a fraternidade, a caridade, o perdão, a esplendorosa figura de Jesus, que é só Amor. Desviei-me do Caminho, camuflei a Verdade, estraguei Vidas!

Enquanto envergava, por muitas vezes, a armadura do ódio, nas madrugadas fervorosas, genuflexo pedia a Deus que me fortalecesse na vitória contra os inimigos...meus irmãos, em Cristo, em Deus! Contra o orgulho, ambição e usura dos que empunhavam a bandeira da minha amada Igreja, levantei a lança da indignação, conspirei, articulei, urdi tramas e dramas, com o fito de se concretizarem meus revolucionários (e ingênuos!) propósitos. Eu queria a melhora dos pobres pela luta, na batalha pelo poder.

Embarquei na canoa furada em que Judas também naufragou, quando se deixou seduzir pela possibilidade em dar "poder ao povo". Faltou-me ler e ouvir o Evangelho, a "Boa Nova", em sua essência Divina e em sua aplicação humana.

Certo dia frisei, em Paris, que "nem um fio dos meus ralos cabelos cairia, sem que isto fosse a vontade do Pai." Ali, na opacidade fanática de uma doutrina filosófica materialista e covarde, assassina, perseguia bons desejos, de aliviar as provações dos mais pobres, dos marginalizados. Esqueci, porém, de transmitir-lhes a maravilhosa riqueza que é a paz em Jesus, a tolerância, a bondade, a imperecível e esplendorosa comunhão permanente com os ensinamentos do Mestre, que nos levam à verdadeira redenção. Minha amnésia espiritual não deixava que eu recordasse as "Bem Aventuranças"! Onde estavas, ó caridade?!

Milhares de paupérrimos se tornaram ainda piores, menores, porque passaram a nutrir em seus corações o ódio contra as elites, a indignação, a revolta contra os dominantes, e a recíproca vinha na mesma ou em maior intensidade. Falsas esperanças alimentaram correntes de rancor e destruição. As hostes encarniçadas do lobo de Itaici, sob minha intrépida batuta, promoviam as campanhas de fraternidade, às vezes trazendo escondidas em seus malévolos ninhos, a formação de grupos revoltosos, sanguinários, belicistas, figadais, aparelhos de guerra. Com a cruz de Jesus, escorei armas e bombas. Sob o manto de Maria promovi encontros clandestinos, as rupturas, as dissensões! Corrompi, degradei, transgredi, em nome de uma falsa justiça social, chardanesco engano!

Descortina-se à minha frente agora, o que nunca me foi novidade: A pobreza espiritual é uma miséria maior, duradoura, muito mais danosa que a miséria material. "C'est necessaire votre matrîse du futur de l'âme!"

O desencadear dessas atitudes, a pior das consequências, foi a perversão imposta ao povo brasileiro (e de resto a algumas outras nações latinas, como Argentina, Bolívia, Peru e Venezuela) da "escolha" de eleitos manipuláveis, corruptos e ladrões, de maus caracteres, marginais oportunistas, caudilhos, ditadores cruéis, sem escrúpulos, sem limites, voltados para a manutenção do poder, sob o selo de "opção pelos pobres". Fizeram, na prática demoníaca, a opção pelos podres! Ratos infelizes, que Deus se apiede deles....
Ninguém nos enganou, pois sabíamos de antemão quem e como era o comportamento de indivíduos mentirosos, enganadores, fraudulentos, estelionatários, iguais ou piores dos que a quem combatíamos. Mas, se prestavam aos nossos propósitos em dominar e influenciar as massas. Mostramos, em pouco mais de uma década, de modo voraz e blindado, que conseguiam ser mais fétidos que a carniça contra quem lutamos.

E agora? Onde estão os ideais? Onde estão os heróis? Onde está a esperança? Nos tribunais, nos processos de roubos, nos escândalos da corrupção desbragada, na cadeia, e na solitária cela de nossas decepcionadas (e cobradoras!) consciências.

A apaixonada, mas ensandecida luta pelos direitos humanos fez-me esquecer, em muitos momentos, os Deveres Divinos! Nossa imaginação fecunda e infecta transformou os postulados do Bom Pastor em estratégias de dominação, e as ovelhas se tornaram ferozes colunas de aves de rapina. Não buscamos pois, o entendimento e aplicação dos desígnios do Doce Nazareno, nem do que o Criador queria de nós.

A ignorância dos assuntos da alma estraçalha sentimentos e raciocínio, e transforma pessoas preparadas, em escravos permanentes do fanatismo. Entendam, de uma vez, o que já sabem: Deus não é um idiota! As louvaminhas e bajulices não O agradam! Ele é mais esperto do que pensam para perceber os truques e enganos de nossas adorações mentirosas. Nossa luta tem que ser direcionada à Imitação do Cristo! Ele quer o nosso evoluir pela AÇÃO! Nos quer na resistente atitude que aprimora o espírito, enaltece e faz crescer o potencial angélico, a centelha divina que existe em cada um! Sejamos pessoas de BEM, não de bens! Compreender a missão de cada um neste lugar (um minúsculo grão de areia na imensidão universal!) é agir vigorosamente na direção do aperfeiçoamento moral, espiritual, de qualidades que nos elevem à presença dEle. O esparramar da verdadeira fraternidade é contagioso e é o meio de transformar (ou melhorar) a nossa falida civilização pré-hecatômbica!

Deus não criou a Humanidade para levá-la ao Céu ou ao inferno, (tenebrosas, simbólicas e irreais figuras, adequadas aos infantis contos de fazer dormir). O Pai quer nossa ascensão no conhecimento, na busca da "imagem e semelhança que precisamos alcançar".

Outro dia assisti (por transmissões daqui) uma caravana de benfeitores espirituais a socorrer muitos dos refugiados em terras italianas. Com amor, com carinho, com benevolência estavam tentando minimizar o sofrimento de muitos que foram generais, políticos, milionários, famosos, religiosos, antigos poderosos, donos do mundo, que ao acordar na Vida Verdadeira, a do espírito, se depararam com os deslizes e estupidez cometidos, e escolheram voltar à carne com essa provação terrível, para mitigar suas culpas e contas. A presença dos socorristas, amparo e apoio, entra na pauta do que chamamos "Misericórdia Divina".

A Igreja, (a minha Igreja!), sob o cetro sapientíssimo de Jesus, precisa clarear as sendas da Humanidade. Pode fazê-lo. Tem as bases e a "receita" para isso. Vejo hoje, com simpática alegria, a atuação do Papa Francisco, ainda meio titubeante, porém, determinada às transformações. Ele nasceu no dia de Lázaro...o símbolo humano da ressurreição! Inclusive pode realizar as mudanças "levianamente" profetizadas por mim, no desmantelamento do império econômico implacável em que caracteriza hoje a Casa de Pedro. A busca lógica e racional da desinência de Deus precisa ser encontrada, descoberta, difundida, alardeada. Questão de inteligência!

Vejo em Santo Agostinho um sério questionamento sobre a negação da verdade feita pelos dogmas e rituais- "Por que ficar na estação da dúvida e do contraditório, do irracional e do superado, se o trilho da evolução fundeados no Caminho do Cristo nos oferece os oceanos descortinados da consciência e da razão?!". Acredito que o atual e bom ocupante da cadeira de Pedro vai atuar nessa metamorfose.

Claro, são gigantescos os problemas que ele precisa resolver na estrutura canônica, na linha Moral da Igreja. Resolver a epidemia da homossexualidade que grassa entre milhares de sacerdotes e freiras, com necessário afastamento dos infelizes desviados, sem exceções ou tergiversação. O rebanho precisa ser preservado, conduzido para a Virtude, e a profilaxia é urgente. Que criem clínicas para tratamento (dos que isso quiserem), que se desliguem do sacerdócio os que preferirem a manutenção de suas práticas homossexuais, mas que sejam impedidos de manifestar seus desequilíbrios "no e com o altar", porque é absolutamente incompatível o quadro atual com a Verdade do Evangelho. Os votos eclesiásticos precisam ser respeitados, e a sua transgressão implica em rompimento incondicional com os fundamentos basilares da Igreja, abalando seus alicerces, destruindo seu equilíbrio, dilapidando as comunidades. Jamais agredi-los, desampará-los, mas, retirando-lhes o cajado condutor, cujo símbolo maior e melhor homilia será sempre o exemplo da própria conduta. Não há carisma da Fé onde não prevaleça a virtude santificada.
Não é suficiente pedir perdão pelos erros de ontem. É imperioso agir, para acertar os passos de hoje, evitando assim, no futuro, os mesmos erros. Os maus e os males estão e são presentes.
Existem outras situações assim tão graves que precisam ser revistas. Dentre estas o questionamento honesto de dogmas, rituais e mistérios, o que impede a evolução espiritual dos católicos. Também situações que exigem a mão da autoridade papal, com firmeza e coragem, como contra a crescente atuação dos padres mercenários, que principalmente nos países latinos, fazem das missas e pregações meras molduras para seus mercados e butecos na sede de enriquecimento material, de consolidação de poderes temporais.

Aqui no Brasil, há redes de rádio e tv explorando a fé (em concessões públicas ilegais!) como se fossem feiras nordestinas, autênticos shoppings de beatas, bancas de camelotagem insuportáveis....em nome de Jesus! Pareiam com alguns gananciosos pastores (ou como diz um escritor...impostores). Uma tradicional missa dominical transmitida pela tv, além do mercado, negociações e propagandas, vendas de coisas e indulgências(???) ainda agride com alguns hinos que devem ser modificados. Os Padres Cromácios ou José Maurício se corariam de vergonha ao ouvir tanta barulheira insossa nas igrejas, onde entoam, como autômatos, músicas alegres e saltitantes, mas que são mentirosas, e anti cristãs.
Certa manhã, recente, quando participava de um velório em Olinda, ouvi um hino que mostra isso, e dizia, na tv: "Só quem já foi órfão sabe o valor do amor de mãe..." Pura bobagem. Todos podem, sabem, devem reconhecer o valor do amor de mãe sem precisar que elas morram! Eu senti e (ainda sinto) o amor de mãe, com minha linda Adelaide, viva! Outra balela diz:- "pois só a Ti quero amar!"...mas Jesus pediu que amássemos uns aos outros como Ele nos amou... que falta de seriedade nas missas... que frivolidades...que pena! Brincam, soltam correntes e campanhas disso e daquilo, entopem a cabeça da população com citações que em nada contribuem nem pra Fé e nem pra união, nem para o deslindar de dúvidas e anseios. Fortalecem conceitos errados e conduzem o rebanho para a confusão mental, mantendo-os no calabouço da ignorância, afundadas num doentio fanatismo crescente.

É imprescindível que se façam as perguntas, insistentemente, pois a busca honesta das respostas (não as retrógradas e ladainhescas inserções) trará o acendimento da tocha da Verdade que o Espírito Santo sempre colocou à nossa disposição. Busquemo-las onde estiverem, e com humildade compreendamos a missão humana, sob a vontade de Deus!

Por que os dogmas, os segredos?, se Jesus preconizou- "que não há mistérios que não possam ser revelados a nós!" Os escandalosos fenômenos, como o de Galilei deviam nortear nossas ponderações, e não se repetir a todo momento.

Confesso que, durante a vida terrena, sempre tive uma certa birra, implicância mesmo, com as teses de Orígenes e Platão, corroboradas, ampliadas e codificadas pelos kardecistas, pelos espíritas( e não minto...ainda tenho algumas rusgas...) Não que não lhes admirasse a inteligência, mas (e isso hoje me deprime!) porque eu não podia aceitar a lógica e a explicação racional com que tratam os problemas da existência dos seres.
Irritava-me, pronta e profundamente, o desfilar de argumentos irretorquíveis, irrefutáveis! Eu preferia a prevalência dos "Mistérios de Deus", acomodado em minha falsa e frágil presunção (comum aos protestantes) de "salvo por Jesus", do que entender a "arrogante...e verdadeira!" afirmação da repetição remodeladora das existências, etc.
Mesmo já acordado e consciente após o "27 de agosto" e sendo recebido por figuras queridas. como meus João e Adelaide, irmãos, amigos, muita gente muito amada, ardia dentro de mim uma ferina vontade. Queria saber de muita coisa que ouvira e nas quais não acreditava: as teses espiritistas.
Quando fui enviado a cumprir meu penoso período de reparação, na sofrida e nauseabundante Colônia de Aidos*** mesmo vivendo os efeitos horríveis do desrespeito e das falhas, ainda assim não me eram claras as razões, a finalidade e os propósitos de Deus, sobre nós. (Há calos mentais difíceis de serem removidos. Só no facão da realidade!)
Dois anos e meio depois cumpriu-se o tempo e fui conduzido para esta região intermediária, onde ainda estou, na qual trabalho, sirvo, penso, tento melhorar e sinto-me útil. Recebo visitas queridas de parentes, amigos e extraordinários conselheiros, que estão, aos poucos, removendo as carapaças de dúvidas e ignorâncias, como a lixar grosso casco de tartaruga. E sou das que também se intoxicam com falsos plásticos semelhantes a alimentos, como o foram os brilhantes e errados conceitos e convicções materialistas. Mas, quando estava vindo pra cá, meados de 2002, informaram-me sobre uma caravana imensa que estava se dirigindo ao pórtico da "Praça Azul", para a recepção de um luminoso espírito. Gente de todo nível, do mais alto ao menor.
Milhões de personalidades, com a presença de patentes universais muito decantadas. Tudo isto era para recepcionar o espírito de Chico Xavier!!! Duro golpe em meu acendrado orgulho! Foi uma grande surpresa para mim, devido à antiga ojeriza, e pelas informações que a mim chegavam sobre o comportamento pessoal do médium mineiro.
Quem, posteriormente, me deu notícias e informações precisas e verdadeiras sobre ele, foi minha querida conterrânea Rachel****( a quem ainda não consegui converter! Mas, mesmo sendo ateia está em nível melhor que o meu... vai entender!) Vim recebê-la no final de 2003, pois ela também foi designada para essa mesma Colônia de Refazimento, onde estou. Ela trouxe-me notícias e detalhes sobre o desenlace de Xavier, no início do século, a repercussão, a comoção nacional. Perguntei-lhe então, (numa tentativa interior que buscava não apenas o comprometimento do maior nome do espiritismo, como também o apanágio para culpas minhas)- "Mas ele era gay?"- perguntei. Circunspecta e ponderada, RQ respondeu- "Não...nunca foi. Ele era assexual. Tinha maneiras, trejeitos, voz e manias afeminadas, suaves. Mas nunca praticou sexo, hetero ou homo, conforme relato a mim feito por Gilberto*****, que também era interessado nessa questão, como nós dois". E conclui-"Hoje, o lugar onde ele está, revela claramente a sua pureza também neste aspecto. É uma entidade muito evoluída, com patentes luminosas de alto padrão. Hostes superiores, de cima."

Vejo, com esperanças, o meu querido povo nordestino (Ohh...Olinda...cujas portas abertas ao meu coração recebe...), meu amado e amargurado povo carioca, meu Brasil...amor incondicional...tenho confiança absoluta num bom porvir. Porém, acusa-me o veredito interior de que não estão sendo feitos os alertas suficientes, não se acenderam as luzes de atenção, quanto à necessidade de se praticar a responsabilidade individual, numa conduta que possa antecipar boas consequências. É exigível reciclar a semeadura com o adubo do amor, do perdão, da certeza da continuidade da vida.
A esse jegue estropiado, que o sou, não agrada a empreitada em subir (como postulam) a rampa da hierarquia dos santos como Dom. Apesar de compreender o carinho de muitos fiéis e generosos amigos, não reconheço em mim qualidades ou ações que isso justifiquem, que se acentuam ainda mais, na comparação com tantos luminares e lindos exemplos que temos na própria hagiografia. Hoje, com consciência mais aguçada percebo a improcedência da homenagem, por absoluta falta de predicados que a justifiquem.
Além disso, acode-me a angústia pela vulgarização destes atos "santificadores", e exemplifico: na canonização em outubro passado, dos assassinados em 1645 na terra potiguar de Cunhau e Uruaçu, estranhei. Pareceu-me uma atitude de "represália" do Vaticano, em confronto com os protestantes, que celebravam, também em outubro, os 500 anos da dita "reforma". Assim, e por isso já estou "canonizado", pois eu era um dos 30, naquela oportunidade, filho de um capataz, (imprudente assassino), que também, na balaiada geral, virou santo.
Ainda aspiro continuar na acepção que muito me agrada, que é a de Irmão, pois é isso, amorosamente, que realmente pretendo ser.
Que Nossa amada Mãe Maria Santíssima possa estender a toda a Humanidade seu manto protetor e que Jesus sirva para todos nós como modelo, para que, cada vez mais, nos aproximemos de Deus.
Obrigado.

Hélder Pessoa Câmara -espírito-

(Mensagem psicofônica recebida pelo canal Arael Magnus Lazarotti em 23 de novembro de 2017 no CEULD- Porto Seguro- Bahia. Transcrição da gravação por Estevão Silva Morais, com copy-desk de Francisca Jerome Avignon, e finalização de Arael)