sábado, 7 de março de 2015

RACHEL DE QUEIROZ- espírito-

                                       BRASIL CÍNICO



   Já não piso em terra firme, e confesso, insegura estou, mas não medrosa. Quando o Gilberto* me contou a novidade, fiz cara de quem já sabia, mas me cocei por dentro, curiosa. "Eu quero!"- Gritei no íntimo. Como um trem pra Madureira, passou lotada em minha cabeça uma população de assuntos, como no trem, mais variados e disformes. O saber que posso, porém, seleciona os temas por ordem de aflição (o que difere da importância para alguns), porque aflição é como dor de barriga, que você tem que resolver, sem pedir opiniões. E minha dor piriresca de agora chama-se Brasil, ou melhor, situação do Brasil.

      (Advirto aos que não ainda me conhecem que não me importo com as reações, e aos que já sabem de mim adianto que estou bem mais azeda e acicatada como nunca)
   
     Daqui ouvimos e às vezes assistimos o desenrolar dos fatos, escândalos, da vergonha (que ainda sentimos) da inacreditável derrocada moral que experimenta essa nação, que nos serviu de pátria por quase um século e que exsuda de nós as melhores energias e esperanças, brio e sangue. Violência, erosão institucional, mentira e cinismo, é o que vemos no país. Diriam os comodistas e principalmente os apaniguados, que este é um quadro mundial. Volto ao tema da dor de barriga específica, nossa de agora é Brasil.

     Três quadros se destacam que revelam e sustentam esse quadro nauseante, putrefato e mal cheiroso, que degradam essa plaga: Religião, futebol profissional e política. Sobre esse tripé está posta a mesa do banquete dos porcos, onde se refestelam e se alimentam os piores e mais baixos instintos, sentimentos ferozes, imoralidade plena, reinante e coroada.

     Na religião, ou religiões, prepondera o estelionato aberto, claro, estúpido. Vigaristas, espertalhões, camelôs da fé, bocas-doces e melosas que fanatizam incautos, ignorantes e pacatos, que imaginam poder estabelecer com "deus" um mercadinho de trocas, uma barganha que envolve demência em sua pior feição. Formam guetos de alienados, bando de seguidores idiotas que trocam a consciência por um lote no céu, irreal, mentiroso. E coloque-se no mesmo saco todas elas, no embornal que agrega as ditas filosóficas e elitistas, às mais grotescas e grosseiras. Umas disfarçam, e negociam de modo indireto, com torpes mercados paralelos. Outras (a maioria) escracham, esculacham, arreganham com os mínimos princípios de inteligência, de dignidade, de relação honesta com o "religare" pressuposto. Não se entende essa liberalidade, essa absurda prática de desonestidades recorrentes, a todo instante, em todos os lugares. Templo é dinheiro!  Sarcasmo doentio.

    O futebol é um esporte alegre, interessante, benéfico para a turba. Porém, o profissionalismo o converteu num indissimulado valhacouto,  de falcatruas e velhacarias, de enganadores e principalmente, um amontoado de milhões de jovens inúteis, incapazes, inválidos sociais. Respondam-se: - O que produz um jogador de futebol profissional? O que esses milhões de garotos fortes, dispostos, varões, trazem de bom para a sociedade? Enfatizo e nisso me aferro: o esporte é bom, mas o esporte profissional (sobretudo o futebol) transforma a juventude-esperança em horda de parasitas sociais onde a jóia vira joio. Estenda-se essa doença para as torcidas, e a paixão vira doença de fanatismo, com toda a estupidez e barbárie que a cercam. Seriam as decapitações absurdas, mais cruéis que  a explosão de um sinalizador na cabeça de um garoto de 16 anos, que dissolveu-lhe os miolos, como ocorrido recente no estádio boliviano? Bando de inúteis, carnicentos assassinos.

      Da política brasiliana foi pervertido, no sêmen, seu propósito edificante. Aqui a perplexidade dos descaminhos e da imensurável corrupção se perdem na vulgaridade da frequência diária, permanente. E não foge muito da realidade -já que exceção não se enxerga- quem aqui generaliza:- São corruptos, por ação ou omissão, pragas nocivas, vermes repugnantes, exploradores covardes. Acenou-se enfaticamente a possibilidade de transformação no final do milênio passado. Eriçaram-se lascivos, os pelos e garras das raposas e dos ratos. As decepções e a vergonha de quem a tinha, não tardaram. Enganando  milhões, o joguete pernambucano exacerbou no cinismo, revelando graves mutilações morais. Pusilânime, se afina com as matilhas, repetindo em escala superlativa aquilo que antes combatia. Em sequência de voracidade pelo poder, ali continua mitigando sua debilidade, ao empurrar a gerenta, que faz- fantochamente- o papel. Na semântica correta devia trocar o "enta" por anta. É o organismo político e governamental, infestado por essa sarna da corrupção contagiosa, da cabeça ao dedão do pé. Esquerdista, nordestina e mulher, me avexo e me aperreio em dose tripla.

       Esse lamentável cenário só piora, e sobremodo mais dana, quando os protagonistas se misturam  e interagem.  Um episódio recente ilustra bem essa regurgitável realidade: Na semifinal da Copa, -ufanismo e babugem abafantes da grotesca ladroagem- na torcida empolgada, ao fundo se via uma faixa -" A Deus toda a glória"-, que estava segura por alguns, dentre os quais 6 políticos mineiros ocupantes de cargos. Estava ali a fusão dos horrores- Futebol profissional, religião e política. Imagino que não é preciso explicar que a interferência de entidades espirituais de grande força foi a causa do acachapante 7X1 dos germânicos. Ou alguém acredita que foi o resultado apenas fruto de qualidade técnica e superioridade esportiva? É claro que a "tarefa de chumbar as pernas" foi favorecida pela demanda empreendida pelo "pibe" argentino, que incumbiu o ala colombino de tirar o atacante brasileiro da fita. É a junção Buenos Aires- Medelin- Calli-Nápoles, que virá à tona em ocasião próxima. Mas, com a humilhação a faixa mudou...."adeus toda a glória...". Os manchados tiveram o que mereceram. Bem feito!

      E a fantasia da "apuração" dos mal feitos (quando a corrupção não é descoberta é bem feita), prossegue, como todas as outras que aconteceram, num espalhafatoso carnaval de mentirinhas. Como o mensalão (que vergonha, hein, nordestinos?!) esses descalabros que estão pipocando por aí, vão pra vala comum da impunidade.  Conseguiram até mudar o nome da empresa que nos trazia orgulho patriótico. Agora é PeTroubrás. E respondam-se: -Por que não investigam as obras da famigerada Copa? Se as empresas que estão no escândalo  são as mesmas da copa...??? ou será que foram honestas ali? Vigaristas, ladrões e trambiqueiros (VLT) apenas em uma empreitada? Ou a "copa" tem acordo de "silêncio premiado" pois todos estão envolvidos?  E será que vão jnvestigar também Urucu, na Amazônia....e a ponte sobre o Rio Negro, que se multiplicou por 10 (no custo!)? Augúrios.

     Em 57 eu era uma no protesto da praça José de Alencar contra a mudança da capital para Brasília. Mas nem de longe imaginei que a projetada se tornasse a Corruptolândia que  é.  Se juntarmos todos os bandidos, pilantras, ladrões de todas as favelas do país, não dá a metade dos que existem na Praça dos Tres Poderes, Esplanada e arredores. Se considerarmos os governos estaduais e municipais, com suas assembléias e câmaras, aí o número de foras-da-lei é maior que do planeta. E se hoje há o susto com estes rombos imagine a hora em que explodirem os escândalos das chamadas  "agências reguladoras"! O melhor adjetivo seria estratosférico, mostrando o chiqueiro em que se transformaram os órgãos, autênticos rendez-vous oficiais.

        E dói...dói sempre, em mim, para que eu descubra no gemido febril, o que é ser imortal. Não queria estar aqui a grasnar como funeranda gralha, e preferiria entoar o canto da jandaia.

                          NB- Não sei se posso, mas peço que se isto publicam, que seja na semana do Dia da Mulher.
                                                                                      Rachel de Queiroz - espírito-


(Mensagem recebida pelo médium Arael Magnus em 8 de fevereiro de 2015, em reunião privativa da Fundoamor, na chácara da periferia em Várzea Grande -MT)