O iscrito do isprito
(Cordel do Além)
(Cordel do Além)
Sô moço, mindá licença
Vô mostrá minha ciença
De versejá sem istudo.
Sô cabocro nordestino
Quem me guia é o Minino
Que manda aqui in nós tudo.
Rogo a tua anuença
Discurpe pelas ofensa
Desse véi assim rombudo
Na minha arretada sina
Vim proceis fazê a rima
Canto pruquê não sou mudo.
Vivi no meu Ceará,
Pronde inda quero vortá
Pra revê minhas prantinha
Os meu bicho, meu lugá,
Minha gente inda tá lá
Continua seno minha.
Cantei quas a vida intera
Fiz verso de mil manera
Fiz sorri e chorei mágoa
Pedi pra Deus a ventura
Que era trazê a fartura,
No sertão derramá água
Ninguém pode imaginá
O que é vivê a cramá
Sem conforto, sem cumida
Oiano os fiinho cum fome,
É triste dimai, viu home,
Eta amargosa de vida.
Veno os animá morrê,
Sem uma gota pra bebê,
Esticano assim, a míngua
Eu descobri no cantá
Um modo de recramá
Daí qui sortei a língua.
Fiz verso de todo jeito
Manco, torto, imperfeito
Mas num parei a rotina
Pedino as artoridade,
pra mandá lá da cidade
e a porvidência Divina..
Despois ficavo suntano
Garrado rádio, escuitano
Pra vê se tinha nutiça.,
Era pura perca de voz,
Pruquê os grandão, pra nós
só mandava a puliça.
Mas eu num me aperriei
Pra todo mundo cantei,
Gente simpre e tubarão
Improrano por clemença,
Tenha santa paciênça,
Óia pra nói do sertão...
Hoje eu seio que meu canto,
Num feis milagre de santo,
Valeu só um mucadinho,
Mas se eu pude fazê pôco,
Garrei cantá que nem lôco,
Percurano os caminho,
Pudera ter feito mais.
Pruquê quem pode num fais?
Meu zóio cansado bria,
Quano alembro a poesia
Que brotava assim, na hora,
Agardeço ao Padim Ciço,
Pru me ajudá no sirviço,
Jesus e Nossa Senhora.
Só cum ôio e mei manco,
Mistiço de preto e branco
Mermo assim eu deio conta
Cantei pra véi e pra novo,
Tentano ajudá o meu povo
A miorá a vida tonta.
Vortano naquele assunto:
Fais nada quem pode munto.
Seu moço, eu disgarrado
Doente, duro, quebrado,
Véi, feio, emprobecido,
Cunsegui levar pro mundo
Do coração, lá do fundo
Das mióra os pidido.
Agora aqui desse lado
Eu num fico sossegado
Pruquê inda óio a penura
Daquele povo sufrido
Do meu nordeste querido
Num magina a amargura..
Do lado das arta banda,
Armentô só porpaganda.
Essa tropa que guverna
No povim passano a perna
Num sabe o que lhe apara
Eu vô tá aqui na porta
Quano chegá morto ou morta
E dá neis uma coça de vara.
E oceis fica bem ativo,
Possu pegá ocêis vivo.
O meu cumpadi Zé Nona
Diz, caçuano minha cara
Qui eu vô derrubá Amazona
Pra encontrá tanta vara.
Mas disso num me aperreio
Córqué cois eu chego o rêio.
Discurpa a irreverença
Dessa minha insolença
Mas é difici, mermão
Vê gente disisperada
Morreno esfomiada,
Sujigano bandonada
Querditano nas cunversa
(Se não é paga é fiada)
Desse bando de imbruião.
Fico aqui, como um fantasma
Gato espicaçano a asma
Pedino que tenham dó,
Do meu nordeste gemente
Socorro pra quela gente
Cada dia mais pió,
Num tem água, só calô
E isturdia o doutô,
Mandô pra lá cubertô
E caixa de leite em pó.
Tem coisa que si num duesse
Seria inté ingraçada,
Misturo o choro cum o riso
Num perco rima ou piada
Isturdia me contaro,
E num foi cabra da peste
Que meu querido Nordeste
Manda agora no Brasi.
Tem Presidente, ministro,
Deputado, senadô,
Sem contá governadô.
Tanto assim nunca vi,
De seca trincô a bilha,
Dos bem que vai de Brasilha
Só receberu os arroto
Falaro em saneamento,
Mas inté esse momento
Só produziro o que serve
(falu isso o sangue freve)
Pra encher cano de isgoto.
Ô dotô, vê se isso vira,
Para cum tanta mintira
Vê se fais a coisa séra.
Du meu pidido num troça
Acode o povin da roça
Pra vencê essa miséra..
Na minha voz imbragada
Vejo a probeza danada
E ôceis achano gozado
Para com tanta indecença
Põe a mão na consciença
Vê se ajuda os coitado,
Dá um jeito de estancá
E a robaiêra acabá
Chega de tanta borrada
Ocêis fica aí sentado
No palácio, no senado,
E os probi fica sem nada.
Lembro o grande Capistrano
Que falô fais muntos ano
A verdade que escancara
Todo povo brasilero
Percisa de tê premero
Munta vergonha na cara.
Sô um cabra nordestino
Qui de burro nada insino
Mais aprindi cum a vida
Si ocê fais o bem, recebe
Na fonte do Pai cê bebe
Cum redrobada midida.
Mas se ocê judeia e oprime
Cumetendo esses crime,
A coisa intão fica preta,
Deus pode inté perdoá
Mas uma hora vai passá
Pelas garra do capeta.
E esse tempo é especro,
Aqui uma hora é um secro..
Nisso que eu falei ceis pensa,
E agora peço licença,
Pruquê já tô ino imbora,
Fica ocêis tudo cum Deus
Na paz do Sinhô Jesus,
No amô de Nossa Sinhora.
Vou saino ma eu vorto,
Onde dé meu canto eu sorto,
Se gosta ou não num importo
Sou eu da cabeça aos pé,
Um abraço apertado,
Assino, munto obrigado,
Do seu eterno criado
... Patativa do Assaré.
Antonio Gonçalves da Silva – Patativa do Assaré
(isprito)
Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras –Sabará em 8 de Novembro de 2009)
Assista clipes de 400 músicas mediúnicas das mais de 1700 recebidas por Arael Magnus em
www.youtube.com/user/TVINTERMEDIUM/videos?view=0&shelf_id=1&sort=dd