terça-feira, 10 de novembro de 2009



O iscrito do isprito
(Cordel do Além)

Sô moço, mindá licença

Vô mostrá minha ciença

De versejá sem istudo.

Sô cabocro nordestino

Quem me guia é o Minino

Que manda aqui in nós tudo.



Rogo a tua anuença

Discurpe pelas ofensa

Desse véi assim rombudo

Na minha arretada sina

Vim proceis fazê a rima

Canto pruquê não sou mudo.



Vivi no meu Ceará,

Pronde inda quero vortá

Pra revê minhas prantinha

Os meu bicho, meu lugá,

Minha gente inda tá lá

Continua seno minha.



Cantei quas a vida intera

Fiz verso de mil manera

Fiz sorri e chorei mágoa

Pedi pra Deus a ventura

Que era trazê a fartura,

No sertão derramá água



Ninguém pode imaginá

O que é vivê a cramá

Sem conforto, sem cumida

Oiano os fiinho cum fome,

É triste dimai, viu home,

Eta amargosa de vida.



Veno os animá morrê,

Sem uma gota pra bebê,

Esticano assim, a míngua

Eu descobri no cantá

Um modo de recramá

Daí qui sortei a língua.



Fiz verso de todo jeito

Manco, torto, imperfeito

Mas num parei a rotina

Pedino as artoridade,

pra mandá lá da cidade

e a porvidência Divina..


Despois ficavo suntano

Garrado rádio, escuitano

Pra vê se tinha nutiça.,

Era pura perca de voz,

Pruquê os grandão, pra nós

só mandava a puliça.

Mas eu num me aperriei

Pra todo mundo cantei,

Gente simpre e tubarão

Improrano por clemença,

Tenha santa paciênça,

Óia pra nói do sertão...



Hoje eu seio que meu canto,

Num feis milagre de santo,

Valeu só um mucadinho,

Mas se eu pude fazê pôco,

Garrei cantá que nem lôco,

Percurano os caminho,

Pudera ter feito mais.

Pruquê quem pode num fais?



Meu zóio cansado bria,

Quano alembro a poesia

Que brotava assim, na hora,

Agardeço ao Padim Ciço,

Pru me ajudá no sirviço,
Jesus e Nossa Senhora.



Só cum ôio e mei manco,

Mistiço de preto e branco

Mermo assim eu deio conta

Cantei pra véi e pra novo,

Tentano ajudá o meu povo

A miorá a vida tonta.

Vortano naquele assunto:
Fais nada quem pode munto.



Seu moço, eu disgarrado

Doente, duro, quebrado,

Véi, feio, emprobecido,

Cunsegui levar pro mundo

Do coração, lá do fundo

Das mióra os pidido.



Agora aqui desse lado

Eu num fico sossegado
Pruquê inda óio a penura
Daquele povo sufrido

Do meu nordeste querido

Num magina a amargura..

Do lado das arta banda,
Armentô só porpaganda.

Essa tropa que guverna

No povim passano a perna

Num sabe o que lhe apara

Eu vô tá aqui na porta

Quano chegá morto ou morta
E dá neis uma coça de vara.

E oceis fica bem ativo,

Possu pegá ocêis vivo.



O meu cumpadi Zé Nona

Diz, caçuano minha cara

Qui eu vô derrubá Amazona

Pra encontrá tanta vara.

Mas disso num me aperreio

Córqué cois eu chego o rêio.



Discurpa a irreverença

Dessa minha insolença

Mas é difici, mermão
Vê gente disisperada

Morreno esfomiada,

Sujigano bandonada

Querditano nas cunversa

(Se não é paga é fiada)

Desse bando de imbruião.



Fico aqui, como um fantasma
Gato espicaçano a asma

Pedino que tenham dó,

Do meu nordeste gemente

Socorro pra quela gente

Cada dia mais pió,

Num tem água, só calô

E isturdia o doutô,

Mandô pra lá cubertô
E caixa de leite em pó.


Tem coisa que si num duesse

Seria inté ingraçada,

Misturo o choro cum o riso

Num perco rima ou piada

Isturdia me contaro,

E num foi cabra da peste

Que meu querido Nordeste

Manda agora no Brasi.

Tem Presidente, ministro,

Deputado, senadô,

Sem contá governadô.

Tanto assim nunca vi,



De seca trincô a bilha,

Dos bem que vai de Brasilha

Só receberu os arroto

Falaro em saneamento,

Mas inté esse momento

Só produziro o que serve

(falu isso o sangue freve)

Pra encher cano de isgoto.



Ô dotô, vê se isso vira,

Para cum tanta mintira

Vê se fais a coisa séra.

Du meu pidido num troça

Acode o povin da roça

Pra vencê essa miséra..
Na minha voz imbragada

Vejo a probeza danada

E ôceis achano gozado

Para com tanta indecença

Põe a mão na consciença

Vê se ajuda os coitado,

Dá um jeito de estancá

E a robaiêra acabá

Chega de tanta borrada

Ocêis fica aí sentado

No palácio, no senado,

E os probi fica sem nada.



Lembro o grande Capistrano

Que falô fais muntos ano

A verdade que escancara

Todo povo brasilero

Percisa de tê premero

Munta vergonha na cara.


Sô um cabra nordestino

Qui de burro nada insino

Mais aprindi cum a vida

Si ocê fais o bem, recebe

Na fonte do Pai cê bebe

Cum redrobada midida.



Mas se ocê judeia e oprime

Cumetendo esses crime,

A coisa intão fica preta,

Deus pode inté perdoá

Mas uma hora vai passá

Pelas garra do capeta.

E esse tempo é especro,

Aqui uma hora é um secro..



Nisso que eu falei ceis pensa,

E agora peço licença,

Pruquê já tô ino imbora,

Fica ocêis tudo cum Deus

Na paz do Sinhô Jesus,

No amô de Nossa Sinhora.



Vou saino ma eu vorto,

Onde dé meu canto eu sorto,

Se gosta ou não num importo

Sou eu da cabeça aos pé,

Um abraço apertado,

Assino, munto obrigado,

Do seu eterno criado

... Patativa do Assaré.



Antonio Gonçalves da Silva – Patativa do Assaré
(isprito)


Recebido pelo canal Arael Magnus, em sessão pública no Celest- Castanheiras –Sabará em 8 de Novembro de 2009)

Assista clipes de 400 músicas mediúnicas das mais de 1700 recebidas por Arael Magnus em
 www.youtube.com/user/TVINTERMEDIUM/videos?view=0&shelf_id=1&sort=dd