sexta-feira, 22 de setembro de 2017

BETINHO- espírito - Trégua Cidadã-4




Trégua Cidadã- 4

O SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA É BURRO?

        Eu não tenho nem ideia de como o pessoal que se diz do "Serviço de Inteligência" justifica sua existência e seus altos salários. Porque é impressionante o padrão de equívocos que se comete no Brasil inteiro, por falta de uma política e polícia preventiva, prudentorial. Escondidos atrás de uma necessária discrição, anonimato, não aparecem, como também não aparecem os efeitos ou resultados de seus trabalhos e atuações, se é que estes existem.

       Há, conhecida por todos, uma enorme quantidade de situações lógicas, que NUNCA são abordadas, atacadas, resolvidas. E existem certos núcleos podres, que sequer são incomodados, menos ainda, desativados. E por isso, a burrice prevalece, o que deixa no ar uma inquietante interrogação: É burrice ou é conveniência? Hoje, posso assegurar, com quase convicção, que são as duas, com prevalência para a segunda. Atitudes precisam ser adotadas, ou então, que se escancare logo a hipocrisia, do "faz de conta" que estamos vivenciando! 

         A dependência das autorizações para agir, muitas vezes é justificativa de não providências, e servem como desculpas para que não sejam adotadas. E isso tem que acabar. 
         Eu vejo intimoratos cidadãos e cidadãs se mobilizarem para defender os cães e gatos abandonados. Mas não enxergo a mesma coragem e valentia naqueles que se abrigam sob o manto de instituições que se propõem a combater a violência e o massacre que acontece aos cidadãos pobres, hoje em risco maior, e com vida pior que a dos animais desprezados. E as explicações oficiais dão conta de perigos iminentes, monstros ameaçadores, imediatos, sobre coisas que se arrastam há décadas. Aparecem como "heróis", e só faltam colocar na lapela o número da candidatura. Politiquinha pobre e rasteira.

        Mas, perguntarão os descrentes, o que sugiro? Nada de novo, nada de irreal, nada que não tenha sido largamente noticiado, nada que nenhum moleque adolescente já não tenha percebido. E elenco algumas destas miraculosas e banais providências, que, aplicadas, reduzirão a números mínimos as ondas de violência, em todos os lugares:

        1- Bloqueio telefônico dos presídios e delegacias, de modo que se corte parte das comunicações que os chefes fazem a seus "soldados". A tecnologia disponível permite esse expediente por um custo muito mais baixo do que se imagina, mas não tem sido implementado, porque contraria a interesses de alguns que cumprem pena e que precisam manter suas regalias (vide Bangu 8). É medida administrativa de efeitos imediatos. Acho que se constatou isso antes mesmo da invenção de Graham Bell ! Ouve-se isso há séculos...mas...

        2- Convocação da entidade que regulamenta a profissão de advogados, a fim de que possam auxiliar no expurgo de mercenários e bandidos que hoje integram esse indispensável nicho de cidadania, já que se detectou (pelos próprios órgãos de investigação) que, apenas no Rio e em São Paulo existem atualmente cerca de 3 mil  " causídicos" que fazem o "leva e traz" servindo como emissários dos assassinos, não agentes da Lei. Os órgãos de investigação e polícia sabem muito bem quem são, como e onde agem. A prerrogativa de que dispõem, do trânsito livre e irrestrito, para defenderem seus clientes não lhes faculta, nunca, a condição de cumplicidade criminosa, como ocorre escandalosamente em todo o país. Recomendável uma sacudida nesse ninho, interrompendo o fluxo nefasto de comunicação e execução de planos e ataques de criminosos. 

         3- Expurgo eficaz e profundo nos quadros das polícias civil e militar, através de análises técnicas, criminológicas e conceituais, já que as polícias urbanas em todo o país estão também tumorizadas pela bandidagem, com presença visível de autênticos gangsters fardados e armados, mantidos pelo dinheiro público. A incidência da corrupção policial (sobretudo no Rio) é assustadora, alarmante, inconcebível e devastadora. Inaceitável, mas de amplo e largo conhecimento de todos!.

         Claro, que, a par disso, se elabore projeto de valorização e aperfeiçoamento dos policiais corretos, quadros saudáveis, com cursos e salários dignos. É muito melhor ter uma polícia civil ou militar, qualificada, confiável, digna, mesmo em menor número, do que essa gigantesca corporação atual, misturada como carne moída, onde se leva também o sebo da corrupção e em grande monta a podridão de carne de ratos, (como as mortadelas e coxinhas servidas no Brasil).
      É compreensível assistir um policial, desfilar com um carro zero, tendo um soldo insignificante, cuja família more na favela do Urubu em Niterói? De onde será que vem tanto dinheiro? E o oficial que possui iate e mansões? Está a serviço de quem? Da sociedade ou dos criminosos? Deve ter ganho na loteria...

           4- Patrulhamento  e vigilância ostensiva e permanente das principais entradas das favelas, conhecidas por todos, como os corredores de armas e drogas. A presença habitual nos gargalos torna desnecessária a existência das ineficazes "upps". Da mesma maneira, a suspensão total das incursões das polícias e forças armadas nas favelas, já que pela capilaridade familiar demonstrada (1,2 e 3), essa matança é covarde, inútil e além de nada resolver, consolida uma postura de "apartheid" inaceitável. O grande volume de drogas e armas não está nas favelas, mas em mansões, condomínios, locais de alto luxo, com a presença de "poderosos", muitos, ocupantes de cargos e representatividade. A proteção e vigilância, quanto às cargas é necessária, se for contínua e séria.

           5-Recorrer a serviços de inteligência internacionais, que mostram eficiência e resultados, a fim de que sejam copiados e executados por aqui. A utilização de expedientes disponíveis de tecnologia, de captação, de análises, retenção e obtenção de informações e indícios, ocupa grande parte dos organismos policiais no mundo civilizado e representam redução de criminalidade, de mortes, de violência, a padrões considerados razoáveis. Isso só será viável com a profilaxia já apregoada nos quadros funcionais. Isso implica até mesmo na forma de abordagem do uso de drogas, que se revela menos prejudicial e letal, em países onde se opta pelo enfoque patológico em contraponto ao ineficaz viés criminal que adota-se aqui. Busquem as experiências bem sucedidas.

           A implementação desses vetores (que não são novidades pra ninguém!) representa um desmantelamento do quadro violento, de imediato, a custos bem menores em relação aos recursos hoje jogados fora. Veja a idiotice que foi a ocupação da favela da Maré, há dois anos atrás. Colocaram as Forças Armadas numa posição de joguete, vexatória e infamante!  Foi mais de MEIO BILHÃO de Reais jogados fora, sem nenhum efeito benéfico, sem nenhuma consequência prolongada, a não ser o aumento da "babaovagem" de ladrões e bandidos travestidos de ocupantes do poder, alguns hoje (graças a "malucos magistrados") colocados na cadeia.

          Toda e qualquer ação que não passar por esses pontos serão malogradas, impertinentes, inúteis. Inócuas e malignas- como são os que as promovem.

           FALANGE DAS MÃES- 
           Se alguém quer conhecer o que é uma favela, arme-se do imponderável, do diferente, do estranho, do quase inacreditável, porque os sustos são muito grandes, quando deparamos com essa estranha realidade. Desde a arquitetura, à forma extraordinária como constroem barracos pendurados, à ocupação de espaços exíguos transformados em lares, a situações de compartilhamento, que revela grandes lições de solidariedade e parceria. Em tudo, pro Bem e pro mal. E essa organização extrapola situações ditas normais, mostrando-se eficiente, segura, fraterna, participativa e protetora. 

           Veja o carnaval carioca (e agora também o paulista, e porque não dizer, o baiano, mineiro, recife, etc). São milhares de pessoas, em disciplina e métodos, que respeitam a comandos, que obedecem "militarmente" a ordens e conceitos, numa manifestação popular detalhadamente coordenada, onde os integrantes das escolas de samba se revestem de valores agregadores, comunitários, integrativos, pouco vistos em quaisquer outras atividades humanas! E não são apenas nos dias de desfile, pois durante os preparativos, os ensaios, todos assumem o seu espaço como peças da grande engrenagem coletiva. O que é fantasia para muitos, na realidade é uma grande concretização cidadã para os que dela participam, desde a feitura à apoteose. E desfilam, hoje, na Marquês de Sapucaí, como faziam na Praça Onze ou na Mauá, com a mesma galhardia e altivez. É preciso tirar suprimentos desse fenômeno social para a trégua Cidadã. (Aliás, aqui cabe um adendo: Marquês de Sapucaí, -o mineiro de Sabará, Cândido José de Araújo Vianna-, é, no meu conceito, o mais honesto e probo brasileiro de que já tive conhecimento. Merece ser estudado e citado como exemplo de retidão de caráter. É um bom palco de desfile para a formação dos brasileiros). 

          Mas, voltando à vaca atolada, o carnaval revela que os moradores das favelas podem se reunir, organizada e disciplinadamente, com objetivos e regras, desde que lhes sejam oferecidos os parâmetros para isso. E descubram um segredo: As escolas de samba só resistem e permanecem vivas por causa das mães! A didática aglutinadora provém delas.  Não é devido aos patrocínios, ao dinheiro enxertado, às luzes do espetáculo, aos turistas, não! São as mães, as alas das baianas, às tias e avós, quem dão a sustentação essencial para que elas sobrevivam. Conversem com os maiorais, com os presidentes e eles vão mostrar essa verdade. Porque na favela o regime é matriarcal, cuja autoridade inquestionável é exercida pela mulher, sobretudo as mais velhas, que abrigam (feroz e carinhosamente) a todos, mesmo como à nossa citada Apolônia (1), sendo mãe de traficante e de sargento, de enfermeira e prostituta, ao mesmo tempo, com o mesmo amor, a mesma devoção.

          NA DIONÉIA...

          Estive certa vez, no alto da Rocinha, num barraco onde morava D. Alzira, numa travessa da estrada da Dionéia. Fui com um amigo, sobrinho dela. Dois cômodos de chão batido, muito pobres, mas limpinhos, e até cheirosos. E o que chamou minha atenção foram marcas de tiro num muro vizinho. Contaram-me a história daquilo: Um egresso da penitenciária, condenado por tráfico e homicídio, fugindo da polícia, entrou o barraco e fez uma mulher e duas crianças reféns. Armado, ameaçava atirar, e a casa foi cercada pela polícia, com forte aparato. Os policiais conversaram, durante mais de 3 horas, tentando convencer o meliante a se entregar e a não molestar as pessoas em seu poder. A situação chegou a níveis altíssimos de tensão, estando a ponto de acontecer a tragédia que ninguém queria. Tiros foram dados por policiais, no muro, a fim de abalar o bandido, que não desistia.
          Tudo parecia caminhar para a inevitável invasão, cujas consequências horríveis pode-se depreender. De repente surge uma figura esguia, magrinha, uma mulher com um lenço amarelo na cabeça, com passos firmes e decididos. Conversou por instantes com o major que comandava a operação, e em seguida, abrindo caminho com os braços, adentrou o barraco, cuja porta foi lentamente aberta para ela. Passados alguns minutos ela surge, trazendo atrás de si o meliante e as reféns. Chamando o major entregou-lhe a arma, que em seguida algemou o rapaz. Era a mãe dele, com firmeza e autoridade, superando a força, as armas, o poderio bélico. Aqueles que trabalham nestes casos sabem a força e a importância destas mulheres na persuasão e domínio, por mais perigoso que seja o indivíduo que esteja em atividade agressiva. Fenômeno social?

            Há uma potentíssima força emanada pelas mães, sobretudo nas favelas. Elas possuem um incomparável poder de domínio sobre a comunidade, e isso tem que ser usado a favor da cidadania. É preciso que se criem condições para esse aproveitamento. Se for dada a garantia de que o filho não será morto, as mães irão cooperar. Elas não temem as prisões, mas sim as balas mortais dos policiais. E as estatísticas mostram que as ditas "balas perdidas" que matam crianças em escolas e em casa, partem, em alto percentual dos casos, das armas dos policiais. Que se projete um sistema de internação dos viciados, usuários e doentes da droga, e que sejam dadas condições de recuperação aos traficantes, mesmo que nas penitenciárias, hoje universidades do crime. 
          As mães conseguem isso, a recuperação, tenham certeza, se lhes forem dadas bases de manutenção e cuidado aos filhos. Creches, escolas, cursos, assistência médica, alimentação, coordenadas e supervisionadas por elas. É preciso formar um grupo, uma falange de mães para cuidar dos morros, das comunidades pobres, dos aglomerados. O empenho financeiro do Estado trará resultados inimagináveis. Seguramente esse investimento será muito inferior aos montes de dinheiro jogados fora nesses espetaculosos quadros programados. O artificialismo das invasões, ocupações, operações que nada trazem de benéfico, precisa ser permutado com atividades de recuperação efetiva. Assim há Trégua Cidadã.

         Essas situações de repetitivos efeitos danosos têm que ser estancadas. Vejo interlocutores oficiais falando como autoridades, com arrogância e empáfia, referindo-se a "bandidos e criminosos", assentados, muitos deles, em seus longos e emporcalhados rabos. Se a Justiça que proclamam fosse mesmo cumprida, provavelmente eles estariam justificando seus próprios crimes, dentro das grades. 

         É preciso buscar a Trégua Cidadã...enquanto se pode fazer isso. Daqui a pouco pode ser tarde demais.
        Se a simples presença de forças armadas fosse fator de solução de violência, Duque de Caxias, no Rio, seria o lugar mais tranquilo do mundo. E o índice de violência ali é altíssimo, também, apesar do enorme contingente existente.


Herbert José de Souza- Betinho- espírito



Mensagem recebida pelo canal Arael Magnus em reunião no Ceuld, em Porto Seguro- Ba, no dia 8 de agosto de 2017 .
Fale com Arael pelo fundoamor@gmail.com


0bs- as mensagens 2 e 3 não serão publicadas por estarem censuradas pelo anacronismo de suas colocações. Alguns dos fatos nelas narrados aconteceram ou foram revelados, antes que pudessem ser publicadas.