domingo, 25 de maio de 2014

Alcy Araújo e Isnard Lima


UMA LUZ INUNDOU NOSSO CÉU

(por isto haverá futuro)


    Estava ali, com meu amigo poeta. O sorriso que ele trazia era um sorriso de criança, feliz, dependurado na calma de quem já sabe o que é.
    De seus lábios semi-abertos como portas de um céu setembro, fugia uma brisa de noite. Vi que na chuva, uma estrela de prata gotejava emoção.
    Equilibrada na fachada da loja nova, a estrelinha era solidária àquele sorriso amigo, parceiro, companheiro de muitos erros e poucos acertos, mas sempre amigo. Ajudou outrora a enxaguar meus versos, tosquiar minhas ovelhas que saíam galopando, sem destino, no jornal.

    -A que deve o mundo esse semblante natalino, se ainda estamos na Semana Santa? - perguntei, ciente de que a resposta não viria, e se viesse, nunca ao ponto de transformar a interrogação em espanto. O sorriso continuava, a resposta não veio, e em seu diálogo com a estrela, vi um sentimento de gratidão que se espalhava, inteirinho, ao lado da faiscante propaganda.

    Depois de muchochos, arfadas sonoras, serenos suspiros, a pedra chamada poeta, falou:
    - Meu pai ensinou-me mágicas e também contou sobre esta. Ele sabia. Nós estamos úteis, somos habilitados, e posso até pedir de novo, o cargo de chato-mór. Acho que vou ao cartório, exigir “juris et de jure” meu reingresso na pauta. Vamos pensar nisso, sumano. Você é você mesmo, e penso que até melhor, um pouco melhor que antes.

    Aquelas palavras vesgas, sem direção definida, tinham o dom de acertar no alvo, na mosca. Minhas saudades chacoalharam como jaraqui no anzol, no intranqüilo lago, que dizem ser nossa alma. Trouxe à tona meu desejo de confirmar tudo isso.
    Ele atira- “Dubitum, ergo cogito”. Nocaute em minha perfunctória lógica dos sonhos.

    Estivemos em reunião, ouvindo belas mensagens, palavras ricas, diamantes cinzelados por ourives de bom saber. Nós dois,- junto a duzentos ou mais- ali estávamos para o retorno à nossa colônia-escola-hospital-hospício-lar.

    No encontro ouvimos o belga padre Júlio, a tucuju Irmã Celeste, os pastores Gunnar Vingren, Daniel e outros. Lindas palavras das professoras Predicanda Lopes (de fala braba e bonita), de Aracy de Mont’Alverne (que tem perfume na voz), Walkíria de Lima (com seu plangente piano), Maestro Altino, Mestre Oscar, Professor Thiago, Dr. Alberto, o farmacêutico Rubim (que me cobrou velha conta) e também a Mãe Luzia.

    Esta- Mãe Luzia- fez um extraordinário, maravilhoso, formidável discurso, sem dizer uma só palavra. Por minutos, à frente, no alto, seus olhos despejaram luz e bondade, encharcando os corações com grossas lágrimas de ternura e sabedoria.

    Muitos outros estavam ali. Poucos falaram, mas houve um acordo geral. Não se pediu o crachá de ninguém. Cada um carregava em si a própria graduação, identificando o estágio. Não havia católico, espírita, protestante, judeu, muçulmano, preto ou branco, hindu ou pagão, mestiço ou índio. Todos eram, ao mesmo tempo, tudo isso, uníssonos sobre o bem do Amapá. Melhor, sobre o Bem.

    Filosofava ainda meu amigo vate de sorriso irônico, quando desferiu novo e certeiro tiro de canhão:
    - “Os espíritos não são espíritas. Eu sou místico, continuo comunista e quisera permanecer consumista, (e suspirando quimeras)... mas veja que intimidade, os pastores com os padres ouvindo um preto velho. Isso é fraternidade. Esse é o desejo de Deus para o futuro da esquizofrênica Humanidade.“- E aduziu:-“Olhe aqui, meu jornalista. Nesse novo uniforme não trouxemos rótulos, os distintivos, as infantis divisões.”-
E poetou:

“-A Luz é sua, Mãe Luzia-

Mãe Luzia rezava quebrantos,
curava espinhela caída,
impingem, defluxo e tosse
tiriça, coqueluche e depressão
Ramo de arruda, fumo, água benta
Erva cidreira, manjericão.
Ninguém saiu com doença.
Benzia, de todos, mãe.
Benzia e abençoava.



Ia à missa de domingo
Tinha uma bíblia de crente,
Que carregava com fé,
Quando ia ao terreiro
De Sô Dito, macumbeiro
Lá na banda do Congós.
Muitas vezes vi voltando
das conversas com o pajé.
Sarava até cicatriz
Doença infeliz
de amor perdido.
Doído.
Mãe Luzia tem sinônimo:
Chamam-na Dona Bondade.
Ela masca, não aceita, ri curto
E abraça.
Seu abraço tem o cheiro
E o frescor de hortelã
Tem gosto de abiú,
Madurim caído mole
Tem cor azul de Maria.
Mão grande que pega vidas.
Dentre todos nós aqui
É a que traz a maior luz.
Parece um cargueiro vindo,
na madrugada escura.
E o porto assim fica lindo
Iluminado de amor.
Nem a pedra do guindaste
resiste mais do que ela.
Nem a fortaleza nobre
é mais forte, ou mais bela.
Mãe Luzia hoje pega
seus meninos
que não nascem
que não morrem, que não riem,
que só choram.
Esses são seus prediletos.
Carinhosa,
fá-los netos
os pobres, os desvalidos
os famintos, os perdidos.
Ah...Mãe Luzia,
se eu pudesse
faria que o mundo visse
sua luz, sua guirlanda.
que forma um arco de estrelas
de onde aves douradas
rumam para o infinito
para conversar com Deus
contando os filhos achados.
Quando aqui o tempo der
a esperança renascer
eu quero Mãe Luzia
por perto,
como parteira.
Ela masca, não aceita, ri curto
E volita,
como aos anjos
Impõe sempre
                              levitar.”- 
                                                                   (Isnard Lima- espírito)

    Chegou a hora do regresso. Enrolo algumas sobras da emoção, que se enroscavam em uma cestinha de flores. A estrela - ainda gotejando brincos, pontos de safira polida – fica ali brilhando sem nós. No reflexo da poça, vi que eu estava com o mesmo sorriso de criança, de pureza, e apenas repetia o que da multidão exalava.
    Só o padre holandês não conseguia sorrir. Sua caravana tinha que seguir de volta, e quem dirige, quase sempre, finge que não é normal.

                                                                                      Alcy Araújo Cavalcante- espírito

Mensagem psicografada em sessão pública no dia 22 de março de 2014 no CEFEC- Valparaíso de Goiás pelo canal Arael Magnus.
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