quinta-feira, 10 de abril de 2014

ALCY ARAÚJO- Sinfonia em Sol Menor


Sinfonia em Sol Menor

   A beira do meio fio da avenida da FAB é um trono onde vagueia um rei sonhante sem reino..
Não há sombra.
    Os fantasmas não as têm. As palavras desalumbradas resvalam pelo bueiro, brotando cheiro gostoso de alecrim e pimenta, bom tempero tucuju, como ensinou-nos Sacaca.
     E o rei,vagueante da beira do meio fio, falou:
      -Viu aquele moleque esperto assaltando a pobre velha? Tem jeito de excelente tocador de bombardino.- Com voz triste, angustiada, fatiada em lembranças.
      Não vi. Meus olhos corriam soltos buscando as netas de Dora, de saiote e blusinha, fazendo a merenda torpe como Evas da serpente. Não possuo o dom de Oscar, mas arrisco que seriam boas no violino. Quiçá no acordeon?
     Quem agora se aproxima e traz chuva na expressão é Altino. Visita sempre o mestre, sempre a batear assunto para amainar o banto que devora o bom amigo. Escuta solene, ao meu lado, como ao canto uirapuru.
     -Eu preciso que você faça um escrito para mim. Seu poder de canetar pode servir ao que quero.- diz Mestre Oscar, como a falar para um porto.
     -Mas professor! “- preguiçoso, ansioso, desesperançado de meus limites, redargui:
     - O senhor é melhor que eu a concretar sentimentos. Mas, diga lá o que espera desse pobre fazedor de insossa sopa de letras?”
     - É uma súplica ...- diz o anjo entre os sinos suspirando melancolia- “...uma súplica!”- Soou como melodia.
     -Ah... então eis a solução. Mormente de súplica entende o bom professor Altino- devaneei quiabante no óleo do tambaqui.
       Pela grave expressão, que veio a galope no olhar de um triste sonhador, percebi que ali não coube no instante o meneio.
       Em tom sustenido, agudo, vaticinou-me a sentença.
      -Preciso que ordene agora que ressuscitem Walkiria!
      Minhas mãos tremeram. De certo, o amigo delirava. Eu tremia.
      Fui salvo pelo apoio comum que assistia àquele chocante apelo:
     -Verdade. – interfere o antigo lente -Mas que venha logo, e que abrigue estes meninos, que adote essas crianças perdidas no lamaçal de uma cultura nefasta.- Altino profeta.


     Um regato de luz brotou na face do anjo dos belos sons, jorrando ao redor o aroma de guirlanda toda flor, que nos envolvia agora. Mestre Oscar radiante:
    -Sim... revivam da Santa Rita, do Laguinho, também Santana, no Jarí,  Oiapoque, Mazagão, Calçoene, Tartaruga, Itaubal....Cutias, Amapari, Belém-  e quase dançando fala os outros pagos tangendo, fechando a lista em decreto:
     - Até em Brasília, no Rio e São Paulo, que são também do Amapá, nossos distritos distantes!- Stacatto.
     Completei: -E em Copenhague, onde moram as deidades.
    Ao sentir em nós acordes, harmonia de expressão, feliz, prosseguiu severo:
    -Veja esta pedra preta que se desprendeu do asfalto. Peça que ela nos conte dos desfiles da fanfarra, da furiosa bandinha, da alegria que ocupava o lugar dos malfeitores, aqui mesmo na avenida.
    Choramos.
    E sem deixar que eu fugisse, a batuta dourada em riste, em tom maior decidiu:
    - Fale com sua mãe! Fale com sua filha. Fale com este mundo! Brade com sua caneta! Grite, berre, pelo amor de Deus...fale!
   Olhei para o cruzamento com a rua enfumaçada. Vi a bandinha chegando, os meninos perfilados, com os ares invadidos por trinados cor de mel. Pássaros despetalantes nos dobrados de alegria... e futuro. Distingui meu Alcione, marchando como se fosse...
   Olhei para o trono (beira do meio fio da avenida da FAB). Não estava Mestre Oscar que com Altino sumira. Levaram junto, sem troco, o baú de meu sossego.
Ressuscitemos Walkirias.

Alcy Araújo – 
espírito



O Rico Poeta do Jardim Nobre
(Paródia de mim mesmo)

Seu poeta é poeta de um jardim nobre
É um poeta sem dor.
(Sim) Tenho alguns espinhos solidários.
Pincelada em tom de verde longe
descansa a vida, viva, enraizada em luz.

Os espinhos
 sempre
me removem
para gotas diamantes
de saudades. Somente.
Ao morrer os instantes de lembranças
de injusta feia ofensa ao Peixe-Boi
Da ausência da enchente, dos navios
fundeados em meu peito.
Os nove As de toda uma vida
fortalecem sentimentos
por quem sempre suspirarei.
Quem foi dantes poeta do cais
hoje vê-se lacaio dos ais.

As flores
aconchegam-se ao meu jeito no perfume
remoendo desejosas de futuro
Refletir em róseas, verdes, acalantos.
Assim me fazem companhia os tempos
ao ver em mim no acetinado manto
Espinho agradecido às minhas flores.
Sempre ouço dele belo verso
que acende em torno doce receio
 e faz rica pobre mente do quase ateu.
E das ervas daninhas banidas
pelas flores (que sem saber) semeei.

De manhã, a luz solar
faz calor dentro de mim
aquecendo-me alegrias
que saltitam incontidas
para resvalar o céu.
afrescos- de beleza incabível
por todas as quimeras sempre vivas.

Chegando a noite
o poeta em rico áureo jardim
se veste
inteirinho de afagos.

E apanha uma prece que o lembra
Menestrel de brilho farto coração
Na lida a descoberta que resiste
a mesma vida, o mesmo jardim
-Tu existes! Explode em laivos de perfume.
-Não guardes só pra ti doces enlevos!
Loucas são as vozes em inércia.
Amando ouvir Debussy
"Clair de Lune"

Escorro pelo cais de lobos refratários
rastejando nas marquises em pedaços
uivos surdos de laivos inclementes.
no cárcere da loucura podre etílica.
Em vão, o ogro morto a me ofertar venenos
Escolhendo-me na dureza infamante.
Depositei-o nas mãos
Rejeitante- fugitivo dos malsãos
daquela que haveria de vir
na promessa nunca mais ali cair
na lembrança o adeus ferve.
Em confidências
No pedido de perdão multiplicados pecados
E acordo levemente atordoado
Sabendo ao ver à minha cabeceira
que os anjos não desistem de mim,
pela manhã.
Sobretudo quando há sol.
Repetindo lições mal apreendidas
que o diabo impôs nas taças desta vida
Repilo, sutilmente, os vermes.
Apagando a chama do rancor maior
tornando-se clamor
que esbugalha olhos impertinentes.

Claro, ainda resta o porto, o cais (meu jardim)
mesmo vindo imundo
livrei-me do inferno

no Dom
de rezar a Deus. Converso!

Alcy Araújo Cavalcante- espírito -
(às minhas bodas de prata 30 dias daqui)

Recebidos em sessão pública no CEFEC- Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade
Valparaíso de Goiás, pelo canal Arael Magnus em 22 de março de 2014

TESTEMUNHO

Não me cobrem das notícias a Verdade!
Tenho medo se assim durmo. Fingindo.
Quando menti franzi o cenho, hirsuto!
Gargalhando das verdades. Arrogante.

Muito fácil escolher o ostracismo
Que esconda um turbilhão de desvios
Confortável esperar missas e terços
Num mercadejar da fé, incongruente.

Não há segredos: planta-se e colhe.
No amor e Justiça o Pai se revela.
Ridículo o perorar por indulgência
Enquanto o ímpio auto denuncia
No estertorar de sua consciência.

Vigiai! Acendei sempre a lanterna.
Meça passos, obras, versos, tudo!
Escutai dos sentimentos o apelo 
que é feito pelos anjos protetores,
insistentes,invasores,permanentes
Ao Bem induzem, recomendam, forçam
arrombando nossa falsa liberdade
de resvalantes no pecado.Dementes!

Não te enganes. Nunca a ti mentirás
Por mais que interpretes, cairás
no descrédito de tua própria sanha.
A Bondade,
 essa suave doce conselheira
te livra “ad aeternum”
da insuportável companhia
do monstro (aqui perfilado)
a quem chamamos
Remorso!


Alcy Araújo Cavalcante
espírito

Recebidos em sessão pública no CEFEC- Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade
Valparaíso de Goiás, pelo canal Arael Magnus em 22 de abril de 2014
Entre em contato com Arael Magnus pelo fundoamor@gmail.com
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